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“A Criada” arrebata com jogo instigante e sensual

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O cinema que vem da Coreia do Sul, nos últimos anos, tem chamado a atenção pela incrível qualidade que seus projetos apresentam em relação ao que é produzido em diversos países. Em 2016, os grandes destaques foram “Invasão Zumbi”, que deu ao subgênero de filmes de mortos vivos uma visão bem mais interessante do que é feito atualmente nos Estados Unidos, por exemplo, e também “O Lamento”, que trata o tema do exorcismo de forma bastante criativa e foi bastante elogiado pela crítica especializada.

Porém, faltava chegar às salas de exibição do Brasil o filme que chamou a atenção dos fãs de cinema desde que foi exibido no Festival de Cannes do ano passado e que, desde então, venceu diversos prêmios em várias mostras pelo mundo. Mas a espera valeu a pena e toda a sua expectativa foi justificada porque “A Criada” (“The Handmaid”/”Ah-ga-ssi”, 2016) é uma obra nada menos do que sensacional, seja na parte técnica, no seu elenco e, principalmente, em sua direção e em seu roteiro, com uma trama que é um verdadeiro (e agradável) quebra-cabeças, que vai sendo montado pouco a pouco, de uma maneira que fascina e instiga o espectador.

Ambientada na década de 1930, a trama ocorre durante a ocupação da Coreia do Sul pelo Japão. Nesse cenário, a jovem Tamako (Kim Tae-ri) é contratada para ser a criada pessoal de Lady Hideko (Kim Min-Hee), uma herdeira japonesa que vive com seu tio Kouzuki (Cho Jin-Woong). Só que Tamako, na verdade, se chama Sook-Hee e foi colocada como serviçal como parte de um plano montado pelo Conde Fujiwara (Ha Jung-Woo), um golpista que pretende se casar com Hideko, ficar com sua fortuna e interná-la num hospício como louca. Mas as coisas começam a complicar quando Sook-Hee se afeiçoa a sua patroa, para o desgosto de Fujiwara. Porém, nem tudo é o que parece.

Contar mais detalhes sobre a história de “A Criada”, inspirada no livro “Fingersmith”, de Sarah Waters, só tiraria o prazer de assistir sua bem montada trama, que surpreende a cada momento. Quando o público acredita já ter sido arrebatado por suas reviravoltas, vem mais outra logo em seguida para mostrar que, assim como num bom jogo de tabuleiro, nada está definido até a partida terminar e que, sem que ninguém espere, podem surgir novos movimentos que mudam todo o cenário da batalha. O ótimo resultado se deve à direção inspirada de Park Chan-Wook – que já tinha realizado os cultuados “Oldboy” (que gerou uma fraca refilmagem comandada por Spike Lee), “Lady Vingança” e “Segredos de Sangue” – conduzindo o filme com uma precisão cirúrgica e consegue a proeza de não fazer os 144 minutos de duração tornarem-se enfadonhos ou arrastados.

O cineasta, também co-autor do roteiro, ao lado de Jeong Seo-kyeong, é bem sucedido nas sequências em que mostra a relação entre as protagonistas. No início, elas passam por momentos singelos e até mesmo pueris. Mas logo em seguida, as duas vivem situações cada vez mais carnais e eróticas, que vão revelando o verdadeiro caráter, tanto de Hideko quanto de Sook-Hee. O recurso poderia, em mãos erradas, acabar não ficando muito diferente do que é visto em produções softcore de gosto duvidoso. Mas, aqui, é muito bem orquestrado e obtém uma energia só vista, talvez, em “Azul é a Cor Mais Quente”, com uma ótima química entre as atrizes, que não só convencem mas também fazem com que o espectador se importe com o destino delas. Além disso, o sexo também é usado como uma forma de imposição de poder de uma pessoa para a outra também por outros personagens, tornando a trama ainda mais perversa e, ao mesmo tempo, incrivelmente sedutora.

No elenco, o destaque vai para as belas e talentosas Kim Min-Hee, que encontra o tom certo para dar delicadeza e, ao mesmo tempo, personalidade para Hideko, e Kim Tae-ri, que transmite bem as mudanças por que Sook-Hee passa durante o desenrolar da história, construindo uma ótima parceria com sua colega. Entre os homens, Ha Jung-Woo consegue marcar presença como o trapaceiro Fujiwara, mas quem chama a atenção mesmo é Cho Jin-Woong, como o tio da protagonista que tem alguns gostos, no mínimo, peculiares, e que são importantes para as motivações de quem está ao seu redor.

Com uma belíssima fotografia e uma trilha sonora marcante, “A Criada” é, junto com “La La Land – Cantando Estações”, a melhor estreia do início do ano e, provavelmente, um dos melhores filmes a serem exibidos no Brasil em 2017. Uma verdadeira aula de direção, edição e, principalmente, roteiro, a produção merece ser conhecida pelo grande público e tem o mérito de, ao final de sua projeção, ficar na memória de quem a assiste por muito tempo. Parabéns a todos os envolvidos!!!

Filme: “A Criada” (The Handmaid/Ah-ga-ssi)
Direção: Park Chan-Wook
Elenco: Kim Min-Hee, Kim Tae-ri, Ha Jung-Woo, Cho Jin-Woong
Gênero: Drama/Romance/Suspense
País: Coreia do Sul
Ano de produção: 2016
Distribuidora: Mares Filmes
Duração: 2h 24min
Classificação: 18 anos

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