Crítica: “Kingsman: Serviço Secreto” faz graça dos clichês de filmes de espionagem

Crítica: "Kingsman: Serviço Secreto" faz graça dos clichês de filmes de espionagem – Ambrosia

Após o sucesso de “X-Men: Primeira Classe” (2011), onde conseguiu conquistar até quem não era fã dos mutantes da Marvel e achava que a franquia não tinha mais nada de bom para dar, Matthew Vaughn foi chamado para comandar a continuação, “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido”. No entanto, ele recusou o convite porque estava mais interessado em fazer sua segunda adaptação de uma série de quadrinhos escrita por Mark Millar (a primeira foi “Kick-Ass: Quebrando Tudo”, de 2010). Bem, parece que o cineasta britânico estava certo com os seus instintos, já que o resultado apresentado em “Kingsman: Serviço Secreto” (“Kingsman: The Secret Service”) é bem mais interessante, além de incrivelmente divertido, do que a mais recente aventura de Wolverine e cia., que acabou nas mãos de Bryan Singer e foi lançada em 2014.

A história é centrada em Gary ‘Eggsy’ Unwin (Taron Egerton), um jovem que gosta de se meter em brigas e confusões e vive na área mais classe baixa de Londres, com a mãe, Michelle (Samantha Womack), o padrasto violento Dean (Geoff Bell) e a irmã pequena. Até que, um dia, depois de ser preso, ele acaba cruzando com um velho amigo de seu pai, o bem educado e elegante Harry Hart (Colin Firth). Eggsy descobre, então, que seu falecido pai fazia parte de um grupo super secreto de espiões chamado Kingman e é convidado por Harry a fazer parte da organização, para participar de um exaustivo (e muito perigoso) exame de seleção para substituir um agente recém abatido em ação. Paralelo a isso,  Harry, e mais tarde Eggsy, tentam descobrir quais são os verdadeiros planos do gênio da informática Richard Valentine (Samuel L Jackson), que pretende realizar uma incrível operação que poderá custar as vidas de milhões de pessoas em todo o mundo.

Assim como “Kick-Ass: Quebrando Tudo” fez graça com os símbolos obrigatórios dos filmes de super-heróis, mas com reverência e nunca com desprezo com esse estilo, “Kingsman: Serviço Secreto”, faz o mesmo, só que dessa vez o alvo são as produções de espiões que se consagraram no cinema, especialmente a franquia “007″. A diferença é que, aqui, tanto Millar quanto Vaughn (auxiliado pela roteirista e parceira Jane Goldman) colocam uma pitada de tempero tanto na história quanto nos personagens, deixando tudo um pouco mais suculento com sua ironia e até mesmo com as cenas de ação, que são muito mais violentas e insanas que qualquer outra vista num filme de James Bond. Basta ver a brilhante sequência em que Harry briga de maneira bastante surpreendente e agressiva dentro de uma igreja com religiosos extremistas. Essa é uma daquelas cenas que, quanto menos o espectador souber, mais prazer ele vai sentir, com o inusitado que surgirá diante de seus olhos.

Outros pontos curiosos do filme estão na maneira que é mostrada a organização de “Kingsman”. O grupo é retratado como uma versão moderna da Távola Redonda, já que, por exemplo, o líder dos espiões se chama Arthur (Michael Caine), assim como o famoso Rei dos Bretões. Harry (que tem o nome e um visual que remete a outro espião do cinema, Harry Palmer, que foi interpretado por Caine no passado) tem o codinome de Galahad e o agente responsável pelos equipamentos especiais e o treinamento dos novatos se chama Merlin (Mark Strong). Além disso, é divertido ver como é retratado o vilão do filme, sempre de boné e com uma roupa mais despojada, como se fosse um rapper, em contraparte aos elegantes membros da Kingsman.  Além disso, uma boa sacada é língua presa de Valentine, que acaba fazendo rir, mesmo quando parece estar falando sério. Ponto para Samuel L. Jackson, que não precisa mais provar nada a ninguém de que é um ótimo ator.

Aliás, não tem como falar mal do elenco de “Kingsman: Serviço Secreto”. Firth está excelente como o espião fleumático, mas ainda assim capazes de executar suas missões com frieza, e mostra uma boa relação de mestre e aluno com Eggsy. Uma dos melhores momentos do filme é quando Harry vai jantar na casa de Valentine para tentar descobrir suas verdadeiras intenções (um dos clichês mais conhecidos filmes de Bond estrelados por Sean Connery Roger Moore) e os dois confessam gostar de 007, mas por motivos diferentes. Mark Strong (que já tinha trabalhado com o diretor em “Kick-Ass”) também se destaca como o durão (mas nem tanto) Merlin, que também ajuda no amadurecimento do jovem protagonista e trava diálogos bem divertidos com ele, especialmente na parte final da trama. Michael Caine, mais uma vez, está mais do que confortável em seu papel e é sempre ótimo vê-lo em ação. Vale destacar também a pequena, porém importante, participação de Mark Hamill, o eterno Luke Skywalker, como um cientista que será importante para os planos do vilão. Hamill, aliás, também apareceu nos quadrinhos como ele mesmo na série de Millar.

Entre os jovens, o destaque é, obviamente, o pouco conhecido Taron Egerton, que teve nas mãos o grande desafio de ser a mola mestra da produção e não fez feio. O rapaz demonstra ter talento e entendeu que seu personagem passa por uma grande evolução no desenrolar da trama, sem perder algumas de suas características originais, como o gosto para brigar e o interesse por garotas, como um jovem e rebelde Bond. Já na parte feminina, o que chama a atenção são as atrizes Sofia Boutella, que interpreta Gazelle, a perigosa assistente de Valentine, que arrasa nas cenas de luta em que usa pernas mecânicas com lâminas (inseridas graças a efeitos especiais, já que ela não é deficiente física), e a novata no cinema Sophie Cookson, que vive Roxy, uma das candidatas a entrar para a Kingsman e que se torna parceira de Eggsy, mas não seu interesse amoroso. Pelo menos, esse clichê foi evitado pelo roteiro.

Com um ótimo uso de sua trilha sonora, especialmente com a música clássica “Pompa e Circunstância”, de Edward Elgar e sucessos pop, como “Give it Up”, de KC & The Sunshine Band, “Slave to Love“, de Bryan Ferry, ou “Money For Nothing”, do Dire Straits (com participação do cantor Sting), “Kingsman: Serviço Secreto” não ofende a inteligência do público (que ainda assim pode se incomodar um pouco com a violência extrema de algumas cenas) e se torna uma diversão acima da média, ainda mais para os cariocas, já que o Rio de Janeiro é lembrado num momento da trama. No fim das contas, dá vontade de ver mais histórias envolvendo os valentes e engraçados agentes desta secreta organização. Se forem tão boas quanto esta, vai valer a pena esperar.

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