Crítica: “O Conto da Princesa Kaguya” conquista por sua beleza e simplicidade

Crítica: "O Conto da Princesa Kaguya" conquista por sua beleza e simplicidade – Ambrosia
  1. De uns tempos para cá, o grande circuito cinematográfico só tem recebido animações realizadas por computação gráfica, com resultados que vão desde a genialidade da Pixar, como o recente “Divertida Mente”, até a produções suspeitas tanto na produção quanto no roteiro, como “O Mar Não Está Para Peixe” e outros menos cotados. Mas há uma exceção neste caso que são as obras criadas pelos japoneses do Estúdio Ghibli, que conseguem romper as barreiras impostas pelo mercado e são lançadas aqui nos cinemas brasileiros (ainda que com um considerável atraso que pode levar anos) e em outros países também. Depois do incrível Vidas ao Vento”, que marcou a despedida de Hayao Miyasaki (embora tenha sido noticiado recentemente que o “Walt Disney Japonês” está preparando seu primeiro curta-metragem totalmente digital), chega ao Brasil o belo e delicado “O Conto da Princesa Kaguya” (“Kaguyahime no Monogatari“). O filme mostra que, para encantar, uma animação não precisa utilizar a tecnologia mais moderna, com riqueza de detalhes ou tramas supostamente “engraçadinhas”. Basta apenas encontrar um equilíbrio entre a técnica e a emoção para que o resultado final seja plenamente satisfatório, como o encontrado nesta produção.

Inspirada no conto popular japonês “O Corte do Bambu”, a trama mostra um simples trabalhador que vive no interior uma vida comum até o dia em que encontra uma bebezinha dentro de um bambu que emite um estranho brilho. Ele a leva para casa e a cria com sua esposa, como se fosse sua verdadeira filha. Para a surpresa de todos, a menina cresce mais rápido do que as outras crianças, o que não impede que ela acabe se enturmando com os outros meninos da região, em especial com um deles, Sutemaru, e vivendo uma vida feliz no campo. Só que o seu pai encontra um monte de dinheiro no mesmo lugar onde achou a garota e resolve ir para a capital para construir um palácio e comprar um título de realeza para a família. Assim, a filha passa a se chamar Princesa Kaguya e chama a atenção de todos por sua beleza e rebeldia, já que não concorda em obedecer às tradições impostas às mulheres. Após receber a visita de cinco pretendentes, entre eles o Imperador, Kaguya dá a eles tarefas praticamente impossíveis de serem cumpridas para que, assim, ela não possa se casar com alguém que não ama. Mas essa ideia acaba complicando a sua vida e a força a lidar com as consequências de suas escolhas.

Dirigido pelo veterano Isao Takahata, “O Conto da Princesa Kaguya” é um verdadeiro deleite para os olhos, já que são inúmeras as sequências que vão deixar o espectador de queixo caído com a beleza de suas imagens desenhadas apenas com lápis, com uma simplicidade que não se vê atualmente, como a sequência em que a protagonista volta a brincar na árvore que fez parte de sua infância. Apenas alguns detalhes são feitos com computação gráfica para dar mais tridimensionalidade, o que pode ser visto numa cena em que Kaguya caminha entre uma plantação de bambus. Mas é realizado de forma tão discreta e minimalista que mal dá para perceber.

Além disso, o filme também chama a atenção por mostrar como se comporta a sociedade japonesa, onde as pessoas podem ascender socialmente e comprar títulos para se tornarem mais respeitáveis, desde que tenham dinheiro para tal. Isso sem falar nas questões envolvendo o papel da mulher neste universo, que Kaguya insiste em desafiar, já que não deseja ser submissa a ninguém. Na verdade, tudo o que ela quer é viver uma vida mais simples, junto à natureza. Outro destaque do filme está na sua belíssima trilha sonora, cujo tema principal ficará certamente na memória do espectador ao fim da sessão.

Indicado ao Oscar 2015 (perdeu para “Operação Big Hero”), “O Conto da Princesa Kaguya” é mais um belo exemplar do cinema de animação japonesa, que encanta de verdade e também leva o público à reflexão dos temas abordados no filme, que mesmo ambientando sua trama num distante passado, ainda são bastante atuais, não importa em que cultura estejam. Vale (e muito) a pena conferir uma forma diferente desta arte, que mantém o frescor mesmo diante de tantas novidades tecnológicas e parece ainda mais humana por sua incrível simplicidade.

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