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Crítica: "Sem Evidências" falha ao perder o foco principal

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Na década de 90, um estranho caso assolou uma pequena cidade em West Memphis, nos Estados Unidos. Três meninos com menos de dez anos foram brutalmente assassinados. Naquela época, sem qualquer recurso, a polícia de Memphis sofria uma pressão enorme por parte da mídia e do governo local que exigia uma conclusão.
Em “Sem Evidências” vemos o julgamento desses três rapazes e como a polícia conduziu erroneamente essa investigação sem achar qualquer prova que os ligasse ao crime. O ponto de vista principal é o de Pam Hobbs (Reese Witherspoon), mãe de uma das crianças, e o do investigador Ron Lax (Colin Firth).

Pam é uma típica mãe do subúrbio americano. Casada com Terry (Alessandro Nivola), ela tem uma filha e um filho, Stevie (fruto de outro casamento). Em um dia aparentemente normal, Stevie pede para ir dar uma volta com a bicicleta nova que havia ganhado do avô. Ela permite, impondo um horário para ele chegar em casa. Seu marido vai lhe buscar no trabalho à noite e informa que Stevie ainda não havia voltado para casa. Nem ele, nem outros dois meninos que saíram com ele. Preocupada, Pam se dirige até a delegacia para pedir ajuda. Alguns dias se passam até que finalmente os corpos das crianças são encontrados na floresta que cerca o bairro. Não se sabe quanto tempo eles ficaram ali ou mesmo o que aconteceu. A comunidade de West Memphis fica em choque. Andando em círculos a polícia local não tem a menor pista de por onde começar. Como recentemente a polícia havia tido seminários sobre ocultismo e rituais satânicos, atribuíram logo o crime a essas práticas. Dessa forma, três adolescentes foram apontados como os principais suspeitos, com base em provas dúbias e depoimentos forjados. Enquanto o caso corre na justiça, Pam tem dúvidas de que os adolescentes sejam mesmo culpados e começa a prestar mais atenção em tudo ao seu redor. Já Lax, bastante indignado com a maneira como as autoridades estão tratando os garotos e o caso, decide oferecer ajuda aos advogados de defesa. Mas, esse caso já estava fadado ao fracasso desde o início.
O caso é público e de conhecimento de todos que tiverem acesso à internet. Jason e Jesse foram condenados a prisão perpétua sem direito a condicional e Damien, na época mais velho que os outros dois, foi condenado a morte. O trio passou pouco mais de 18 anos na prisão por um crime que não cometeram. A justiça falhou. O Estado falhou. E o culpado continua solto.

Esta versão da história, dirigida por Atom Egoyan e baseada no livro de mesmo nome da autora Mara Leveritt, é falha em diversos momentos, a começar pela própria narrativa, pois não consegue conduzir a trama de um dos pontos de vista principais que é o de Pam, vivida por Reese Witherspoon que não se entrega tanto quanto deveria. Desde o momento em que o crime acontece, o foco muda de direção e não é possível trazer o espectador para compadecer da situação desesperadora dessa mãe.  E, apesar de deixar claro que há sim uma má conduta das autoridades, o diretor parece titubear em alguns pontos e tenta ainda vender a ideia de que talvez os garotos sejam mesmo culpados.
Colin Firth tira leite de pedra e tem uma atuação mais convincente que a maioria do elenco, que mesmo possuindo nomes conhecidos, são indiretamente prejudicados pela importância de seus personagens ou quem sabe pelo corte final do filme.

Possivelmente o mais intrigante é que outros documentários já foram feitos sobre o caso, um deles por ninguém menos que Peter Jackson o qual participou ativamente em prol da liberdade do trio. Seu documentário intitulado “West of Memphis” está em cartaz na rede HBO e foi lançado no festival de Sundance em 2012. Há também o livro escrito por Damien Echols, “Vida Após a Morte”, que contém relatos intensos sobre o ocorrido e os anos em que passou atrás das grades e outro documentário, bem mais antigo, também da HBO que foi dividido em três partes chamado de “Paradise Lost”. Nesses exemplos, provindos de fontes distintas, há informações muito mais pertinentes do que aquelas apresentadas em “Sem Evidências”.
Fica claro que a opinião que importa realmente é a da autora Mara Leveritt e não aquela que estão tentando vender ao espectador, o que é uma pena, pois com um pouco mais de afinco e o foco correto, poderia ter sido um excelente filme.

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