Meryl, Meryl, Meryl. Sempre ela. Em muitos casos a superexposição de estrelas da telona desgasta a imagem. Mas este não é o caso. Meryl Streep é uma constante de talento, raramente decepciona, arrasando até mesmo em comédias românticas como “Simplesmente Complicado”. Não é à toa que ela é a recordista de indicações ao Oscar, com 16 nomeações, embora tenha levado a estatueta apenas duas vezes. Este ano, como não poderia ser diferente, lá está ela de novo como forte candidata, dessa vez por “Dama de Ferro”. E, se a Academia for justa, a musa da sétima arte deve faturar seu terceiro Oscar.
O mais recente longa protagonizado por Meryl Streep narra a trajetória de uma das figuras mais marcantes da história contemporânea: a implacável ex-primeira ministra britânica Margaret Thatcher. A narrativa se inicia no tempo presente mostrando uma Margaret velha, demenciada, cada vez mais vulnerável física e emocionalmente, lutando para tentar manter a mesma figura autossuficiente e irredutível que a levou a ser apelidada pelos soviéticos como “a dama de ferro”. A frágil senhora relembra sua vida através de conversas com o marido já falecido (Jim Broadbent), que funciona como seu alterego na trama.
Através das lembranças, o filme busca retratar um outro lado da mulher arrogante e intransigente, expondo os conflitos internos pelos quais ela passou para chegar ao posto político mais importante do Reino Unido e mantê-lo por mais de 11 anos. Filha de um simples dono de mercearia, desde jovem estava decidida a conquistar um mundo dominado pelo sexo masculino. Logo cedo encontrou um homem que se apaixonou por sua inteligência, independência e determinação e que a acompanharia e apoiaria durante toda sua carreira, mas que sofreu com a ambição e negligência da esposa para com a família. Além dos arrependimentos quanto à relação que construiu com filhos e o marido, o longa também relata seu sofrimento após tomar decisões políticas questionáveis, apesar de jamais aceitar ser contrariada, como a entrada na guerra contra a Argentina pelas ilhas Malvinas em plena recessão econômica britânica.
Através de profundos olhares e gestos sutis que só Meryl Streep consegue atingir, o longa, então, relata, a angústia contida e velada de uma mulher que não podia deixar transparecer suas emoções para sustentar seus ideais e conquistar a vida política. Além do mérito da protagonista, não se pode deixar de citar a excelência da edição e direção. Um filme biográfico, essencialmente baseado na subjetividade de uma personagem corre grande risco de tornar-se maçante. Um exemplo é o também recém-lançado “J. Edgar”. Com narrativa bastante similar à “Dama de Ferro”, o filme se alonga demais e torna-se tedioso para o espectador, enquanto a “Dama” nos faz prender a respiração a cada etapa de sua vida retratada, como se fosse uma história ainda desconhecida. Cabe ainda o reconhecimento da maquiagem impecável, que foi o elemento final para a transformação completa de Meryl em Margaret.
“A Dama de Ferro” pode ser, então, classificado como um dos imperdíveis da temporada, pois atinge uma dupla consagração: uma dama da história e uma dama do cinema.
Muito bom o seu texto, senhora jornalista.
Está quase lá para escrever para o bonequinho do Globo de domingo!
🙂