Há um ponto nevrálgico entre a história do filme Duas Rainhas e o mundo atual que vai além da rede de intrigas pelo poder, recorrente no passado (real e ficcional) e no presente. Trata-se de um forte discurso feminista, que por mais que tenha sido realçado pela circunstância atual e pela fato do filme ser dirigido por Josie Rourke, se alinha com a factualidade de acompanhar a chegada de Mary (Saoirse Ronan) à Escócia, após a morte do seu marido, o príncipe francês Francis.
De volta ao seu país de origem, Mary tenta de tudo para derrubar a sua prima Elizabeth I (Margot Robbie), a Rainha da Inglaterra, e assumir a coroa de ambos países. Stuart, Rainha da Escócia, seria a verdadeira herdeira do trono do Reino Unido – devido à sua linhagem familiar.
Baseado no livro ‘Queen of Scots: The True Life of Mary Stuart’, de John Guy, o filme foca principalmente na trajetória errante de Mary, inclusive a nome original é homônimo ao livro, e essa “tradução” brasileira é equivocada, uma vez que o foco da trama está em uma rainha só, sendo Elizabeth o seu contraponto e reflexo dramático.
O roteiro, de Beau Willimon, que parece ser especialista em thrillers de drama político, como na série House of Cards e no bom filme Tudo Pelo Poder (de George Clooney), ao mesmo tempo que constrói bem a tensão emocional sempre crescente entre as duas, simplifica de forma didática a narrativa de intriga política que gravitava essa relação.
Em Tudo Pelo Poder, ele já tinha “simplificado” a questão política, mas que funcionou dentro das bases dramáticas envolvidas. Aqui, o roteiro por vezes tropeça com personagens e situações pouco críveis diante da dimensão retratada. Direção de arte, caracterização, figurino e fotografia não fogem a opulência dos livros de História.
Magnificamente. Saoirse e Robbie estão ótimas em seus papeis, com a primeira comprovando a destreza em lidar com qualquer complexidade dramática de interpretação e a segunda num belíssimo crescimento profissional a cada filme.
A força dessa rivalidade fria exprime um forte discurso feminista, sobretudo pela maneira imperialista que elas são colocadas. Nesse sentido, o filme cresce muito. Tanto que as cenas finais são mais fortes pelo que representam do que pelo que dizem no todo. E isso se aplica ao filme em si: representa mais do que diz. O que não é necessariamente um pecado.
Comente!