O épico e melodrama costumam se relacionar mas não são um híbrido genérico de um filme. Esse paradigma nunca esteve na cartilha cinematográfica de Jayme Monjardim, que já disse várias vezes que não separa seu trabalho em novelas com o que faz em cinema.
“O Tempo e o Vento”, de Érico Veríssimo, que destrincha a formação do Rio Grande do Sul, em uma trilogia que passeia pela história por meio de famílias que se enfrentam e se encontram em guerras e romances, já carrega em si a opulência quase folhetinesca de uma saga, muito bem romanceada pelo autor. O filme começa com Bibiana (Fernanda Montenegro) idosa, numa noite de disputa entre sua família, os Terra-Cambará, e seus maiores inimigos, os Amaral. Enquanto espera passar essa “noite de vento, noite dos mortos”, recebe a visita do espírito de seu marido, o Capitão Rodrigo (Thiago Lacerda), e conta-lhe toda a saga de sua família – como se ele não a conhecesse. Nessa, digamos, narrativa contada ainda vemos Ana Terra (Cléo Pires) vive numa estância com seus pais, onde ela conhece Pedro Missioneiro (Martin Rodriguez), iniciando assim um romance, claro, proibido e de fins trágicos. Anos mais tarde, um certo Capitão Rodrigo chega à cidade de Santa Fé, onde disputa o amor de Bibiana (agora interpretada por Marjorie Estiano) com Bento Amaral (Leonardo Medeiros), de cuja família se tornará inimigo mortal. Essa parte da narrativa é particularmente mal resolvida, uma vez que o personagem de Medeiros praticamente só ilustra o conflito, e não se desenvolve a contento.
A transposição para o audiovisual necessita de uma propriedade estética que consiga aglutinar sua essência para além de sua temporalidade. Se a minissérie de 1985 chegou perto, o filme atual não tem consistência nem histórica, nem dramatúrgica, preocupado demais em oferecer (realmente) bons takes para sua fotografia e clímax novelescos sem sustentação dramática.
O roteiro é raso ao aglutinar tamanha jornada e Jayme pesa a mão na abordagem, com uma trilha sonora estridente e uma estrutura narrativa um tanto didática. Thiago e Fernanda trazem algum respiro de organicidade ao longa, mas de resto fica tudo muito na fórmula. Ou seja, não sabendo lidar com as pretensões épicas e melodramáticas de sua história, o diretor acabou por fazer novela, o que sufoca demais a abrangência do espaço cinematográfico. E a nossa paciência…
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