Betânia é uma mulher de 64 anos que tenta renascer enquanto o mundo acaba. Moradora de uma área isolada dos Lençóis Maranhenses, depois de enterrar o marido, morto pelo sal, decide, após a insistência das filhas, mudar-se para o povoado de 300 habitantes onde nasceu, mas nunca habitou, e passa a viver os confortos e desconfortos da vida com internet e energia elétrica.
O diretor Marcelo Botta é oriundo da TV, mais precisamente a MTV Brasil, onde na MTV Brasil onde dirigiu os programas Comédia MTV (vencedor do APCA 2010), Furo MTV, Furo em Londres 2012 e Trolalá. O paulista se aprofundou na cultura local para ter ferramentas que permitisse construir a trama, baseada na vida de uma parteira real. O roteiro, também de sua autoria, costura a jornada de Betânia a tramas paralelas que também possuem sua relevância, e aproveita para abordar temas como a questões ambientais, socioculturais, tudo pontuado por um tom quase documental (em determinados momentos há inserções de rodas de conversas de lavadeiras da região, em que a sabedoria popular se manifesta). O trabalho impecável de fotografia de Bruno Graziano adorna a narrativa, explorando todas as belezas das dunas.
Botta vai alinhavando todo o desenho dos personagens, que serve de sustentáculo da trama. Com atuações bastante naturalistas, o elenco vai conferindo verdade e gerando empatia com o espectador, que dificilmente não torcerá por eles. A história de Betânia é comovente e a atriz Diana Mattos transmite a dor e ao mesmo tempo resiliência de sua personagem muitas vezes apenas com o olhar.
“Betânia” escapa da armadilha de focar apenas na pobreza e na melancolia, ou na visão deslumbrada de um sudestino embasbacado com as belezas do local, dando um viés “turístico” ao filme. Botta opta por um tom vibrante, dosando adequadamente o drama e o humor, exaltando a força da mulher nordestina.
Comente!