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Festival do Rio: “A Forma da Água” e a certeira fabulação de Guillermo Del Toro

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O mais interessante da fixação do cineasta mexicano Guillermo Del Toro por monstros, nem é a excentricidade cinematográfica em si, mas sim como ele usa essa obsessão para falar da hiper-realidade. A Forma da Água é um de seus exemplos mais bem acabados.

A trama é uma desavergonhado conto de fadas, passado na urgência da Segunda Guerra, nos Estados Unidos de 1962. Eliza (Sally Hawkins, grande instrumento dramático do diretor), é uma solitária faxineira muda que consegue se comunicar bem com seus poucos amigos, entre eles Zelda (Octavia Spencer, sempre dosando bem sua comicidade) que trabalha com ela em uma organização governamental, e seu vizinho gay, Giles (Richard Jenkins) que vive dando conselhos para a amiga. Tudo muda quando ela descobre uma estranha criatura aquática no laboratório da organização e se envolvida com ele, mesmo intrigada pelas circunstâncias. Óbvio que essa conexão vira algo mais e o extremo do que sente a encoraja a tirar a criatura das mãos institucionais (leia-se, Michael Shannon fazendo bem, mas o mesmo papel há uns oito filmes).

Del Toro investe pesado na fabulação de sua história, incluindo uma direção de arte exuberante e fotografia com luzes pontuais incidindo sobre o todo. Para você ter uma noção, a protagonista mora em cima de um velho cinema. E, numa das cenas mais bonitas, o diretor usa o som e flashes de imagens de uma apresentação americana de Carmen Miranda.

Inebriados pelo universo que ele cria, vamos delicadamente percebendo suas críticas sociais (tão atuais) e um estudo sobre a corrosão da solidão. Sally é uma espécie de “Cabíria” para o pantanoso meio que a cerca, e seu envolvimento com a criatura diz muito sobre sua inadequação com o mundo “normal”. Del Toro trata disso com muita delicadeza.

A Forma da Água é um filme corajoso pois investe fundo no seu conceito de fábula, e isso pode causar certo descrédito. Mas o diretor sabe o poder de seu cinema lúdico. Ainda mais quando “O Monstro da Lagoa Negra”, clássico que ele tanto venera e inspirou esse filme, está do lado de fora do cinema, com faixas presidenciais e conceito minados sobre sociedade.

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