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Festival do Rio: "James Brown" não revela toda a alma do Padrinho do Soul

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Como a maioria dos grandes nomes da Música Americana, a vida de James Brown foi cheia de altos e baixos. Por isso, a tarefa de levar sua trajetória para o cinema é algo realmente complicado. Como reproduzir tudo o que ele realizou, não só musicalmente, mas também para a sociedade americana (e não só ela), em pouco mais de de duas horas? É algo realmente difícil de ser feito e poderia ser até desagradável. No entanto, a cinebiografia “James Brown” (“Get on Up: The James Brown Story”), embora não resolva tudo a contento, saiu melhor do que o esperado, graças ao grande personagem que Brown era e sua contagiante trilha sonora.

Durante 139 minutos, o filme apresenta alguns dos principais fatos daquele que se tornou o Padrinho do Soul (entre outras alcunhas, que são apresentadas com o desenrolar da história): Sua infância pobre, a difícil relação com a mãe (Viola Davis), que chega a desprezá-lo ainda criança, o apoio que teve de sua tia Honey (Octavia Spencer), sua prisão por roubar um terno (onde conheceu seu amigo Bobby Byrd, vivido por Nelsan Ellis), seu início na música, o sucesso, os casamentos, os grandes shows, onde se destacam o que fez durante a guerra no Vietnã e o que aconteceu na noite em que Martin Luther King foi assassinado, sua relação com o empresário Ben Bart (Dan Aykroyd), seus problemas com a bebida, entre outros eventos.

A direção de Tate Taylor, o mesmo de “História Cruzadas” é bastante segura, especialmente nos ótimos números musicais, onde o espectador pode ouvir hits como “I Got You (I Feel Good)”“Night Train”“Papa’s Got a Brand New Bag Pt. 1” e, claro “Get Up (I Feel Like Being a) Sex Machine”. O cineasta consegue boas interpretações de todo o elenco, especialmente do pouco conhecido Chadwick Boseman, que reproduz a voz e os maneirismos de Brown quase perfeitamente. Porém, o trabalho de Taylor é prejudicado pela indefinição do roteiro de Jez Butterworth e John-Henry Butterworth, que conta a história fora da ordem cronológica e criou cenas em que o protagonista quebra a “quarta parede” e fala para o público. Só que, logo em seguida, a narrativa muda completamente e volta a adotar, ora um estilo mais tradicional, ora uma forma mais fragmentada, onde algumas questões dos personagens só são solucionadas bem mais à frente. Isso quando o texto se preocupa em respondê-las, o que nem sempre acontece. Pelo menos, os roteiristas não tornaram Brown um santo e, assim como “Ray”, sobre a vida de Ray Charles, eles também destacaram os defeitos do biografado, como sua arrogância, o ciúme que causou brigas com a mulher DeeDee (Jill Scott), o alcoolismo e, principalmente, a relação complicada que teve com o melhor amigo Bobby Byrd, que se torna o ponto dramático mais relevante do filme.

Do jeito que ficou, “James Brown” (que foi produzido por, entre outros, Mick Jagger), traça apenas um panorama voltado para quem não conhece muito sobre a vida deste grande artista, que ainda influencia e faz muita gente balançar quando ouve suas canções. Pode até ser que, um dia, surja mais uma cinebiografia mais relevante sobre Mr. Dinamite. Mas, mesmo assim, o filme empolga e dá vontade de chacoalhar o esqueleto ao som do Padrinho do Soul.

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