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Festival do Rio: "Mommy" choca e impressiona com relação familiar complexa

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Com apenas 25 anos de idade e quatro filmes como diretor, o canadense Xavier Dolan está se tornando um dos grandes nomes do Cinema Internacional. Já tem mais de 30 premiações em sua curta carreira, sendo o mais recente (e mais importante) o prêmio do júri do Festival de Cannes 2014 por “Mommy”, onde ele volta a trabalhar com alguns elementos e parte do elenco de seu primeiro longa, “Eu matei a minha mãe”, de 2010. Mas agora, mais experiente, o cineasta realiza um trabalho bem mais interessante, tanto na forma quanto no conteúdo.

A trama gira em torno de Diane Després (Anne Dorval), uma mulher viúva que tenta criar o filho adolescente Steve (Antoine-Olivier Pilon), que tem distúrbio de déficit de atenção, além de ser extremamente violento, provocador, desbocado e desobediente. Um verdadeiro garoto-problema. Porém, suas vidas passam por mudanças após a aproximação de sua vizinha Kyla (Suzanne Clément), uma professora licenciada por questões de gagueira. Ela faz o possível para ajudar Diane a controlar Steve, ao mesmo tempo que tenta fazer com que o rapaz volte a se interessar pelos estudos. Só que nada será fácil para nenhum deles.

Definitivamente, “Mommy” é um filme de diretor e nele é possível ver a mão precisa de Xavier Dolan em cada fotograma. Com uma estética arrojada, onde a maioria das cenas foi planejada com um enquadramento bem mais fechado do que de costume (para dar a impressão da vida oprimida e sem grandes alegrias que os personagens vivem), o efeito causa estranheza no início, mas logo percebe a intenção que o diretor queria passar. Além disso, Dolan cria a tensão exata nas cenas em que Steve confronta a mãe (até mesmo fisicamente) e Kyla, por simples rebeldia. Mas o ápice da genialidade do cineasta envolve uma sequência que acontece ao som do hit do grupo Oasis, “Wonderwall”. Contar mais do que isso estraga a surpresa. Só quem assistir ao filme compreenderá o arrebatamento que esse momento proporciona. Vale destacar também a cena em que Steve canta “Vivo Per Lei” num karaokê, enquanto a mãe conversa com um pretendente a namorado, que chama a atenção pela fotografia e a montagem perfeitas.

Além da ótima direção e do bom roteiro (também assinado pelo diretor),“Mommy” também conta com a força de seu ótimo elenco. Anne Dorval está ótima como a mãe que tem pouco estudo, se veste mal e, em alguns momentos, precisa fazer certos sacrifícios por amor ao filho. Antoine-Olivier Pilon é o grande destaque com sua atuação avassaladora como o complicado Steve, cujos ataques de fúria são impressionantes, assim como sua relação controversa com a mãe (que sugere até um possível incesto). Já Suzanne Clément não compromete, mas brilha somente numa sequência da trama, quando encara Steve de igual para igual. Todos esses atores estão confortáveis em seus papéis até mesmo porque já trabalharam com Nolan no passado.

Com um final realmente impactante e polêmico, “Mommy” certamente entrará em várias listas de melhores do ano no fim de 2014. Mas não é um filme fácil de digerir e pode sofrer resistência de uma parte do público. Mesmo assim, ele merece o reconhecimento por ter uma proposta diferente do que está sendo feito e lançados nos últimos meses. É bom ficarmos de olho no que Xavier Dolan tem em mente para impressionar nos seus próximos projetos.

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