O cineasta Mohsen Makhmalbaf é um dos principais nomes do Cinema Iraniano e encabeçou, nos anos 80, a geração de diretores que projetaram a produção cinematográfica do país para o resto do mundo, conquistando um público fiel e devotado em festivais, mostras e circuitos exibidores específicos, o chamado Circuito de Arte.
A nova produção do diretor de “A Caminho de Khandahar”, de 2001, é “O Presidente” (“The President”, Geórgia/ França/ Reino Unido/ Alemanha, 2014), em que conta a história de um ditador de uma fictícia vila do Cáucaso que governa com punhos de ferro, desfrutando junto com sua família e aliados dos maiores privilégios à custa do sofrimento da população. Quando eclode uma revolução que derruba o governo, a família consegue escapar do país, mas acaba deixando para trás o ex-presidente e seu neto de apenas cinco anos. Para escaparem ilesos, ele vai criando ao longo da fuga e disfarces para os dois, o mais inusitado é o que ele se passa por um músico de rua e o menino se veste como menina e dança para acompanhar as músicas executadas. Por ser confundido com alguém do povo, o governante, durante a jornada, tem a oportunidade de ouvir diretamente todo o descontentamento e revolta da população em relação a ele. Além disso, toda a adversidade o torna mais próximo do neto, lhe permitindo brincar, contar histórias para dormir e até abrir mão do tratamento de ‘Vossa Majestade’ que a criança era obrigada a usar no palácio em vez de “vovô”.
Já virou piada, assim como de dizer que todo filme argentino tem o Ricardo Darín como protagonista, todo filme iraniano tem uma criança no núcleo da trama. Embora a produção seja estrangeira, Mohsen se manteve fiel a elementos característicos do cinema de seu país, a linguagem estética e narrativa que ele ajudou a tornar famosa. Crianças em papeis centrais de situações adversas são um recurso infalível para acentuar a dramaticidade mas, não raro, acaba resvalando na pieguice barata. Não é o que ocorre aqui. O que o diretor executa é algo que poderia se comparar a uma versão mais pungente e sombria de “A Vida É Bela” de Roberto Benigni. Aqui também vemos o personagem adulto tentando amenizar o contexto para a criança, dando a entender que tudo não passa de um jogo. Mas Moshem optou por uma crueza bem mais acentuada, sem todas aquelas cores da película italiana. E ainda propõe uma interessante reflexão à cerca da dicotomia entre uma força autoritária constituída e outra sobreposta através de revolta popular e a natural aproximação com a primeira após a segunda estar estabelecida.
“O Presidente” é mais um título da profícua carreira do cineasta iraniano que sem dúvidas vai conquistar os admiradores de sua obra, por sua realização impecável e um ótimo trabalho de elenco. É visivelmente uma produção de orçamento generoso, mas também fica explícito que o aproveitamento foi diretamente proporcional à disponibilidade de recursos. Uma belíssima obra, de um dos maiores ícones vivos e atuantes do cinema contemporâneo.
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