É com as mesmas tintas surrealistas vistas no episódio de sua autoria no filme “3 Extremos” que Takashi Miiki pinta a mescla de Drama, Terror e Suspense “Por Cima Do Seu Cadáver” (Kuime, Japão/2014). Conhecido por não poupar o espectador de cenas sangrentas e violentas em filmes anteriores como “13 Assassinos” e “Audition”, ele também dirigiu o inusitado “Sukiyaki Western Django”, que cruzava elementos de Japão Feudal com Velho Oeste, tanto na indumentária dos samurais-caubóis quanto nos cenários.
“Por Cima do Seu Cadáver” mostra o casal de atores Kosuge e Miyuki que se prepara para encenar uma adaptação para o Teatro de uma clássica história japonesa de fantasmas do século XIX, ‘Yotsuya Kaidan’. Com o avançar dos ensaios, a peça começa a provocar interferências e paralelismos macabros na vida do casal, e vice-versa. Miiki brinca de forma intrigante com o jogo do real e imaginário, proporciona reviravoltas, nunca abrindo mão de cenas fortes, que causam desconforto proposital, mas não exatamente gratuito. Além disso, sua câmera evolui como em um balé, adicionando deslumbre técnico visual, paradoxal à sanguinolência crua da trama. A direção de arte é primorosa e eficientemente amparada por um belo trabalho de fotografia, que ganha ainda mais destaque nas sequências que mostram a encenação do espetáculo.
O diretor realiza a proeza de combinar violência gráfica intensa com sofisticação, e entrega ao espectador um Terror adulto, sem a histeria de filmes como “Atividade Paranormal”, a série “Premonição”, e até mesmo dos conterrâneos da década passada, vindos na esteira de “Ringu”.
“Por Cima Do Seu Cadáver” não é indicado para pessoas sensíveis, é preciso ter um mínimo de estômago forte para atravessar os 93 minutos de projeção. Quem o tiver, vai se deleitar não apenas com um eficiente exemplar do gênero Terror, mas também com um trabalho apurado de um dos diretores japoneses mais importantes do cinema atual.
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