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“Grand Central”, exibido na mostra ‘Un Certain Regard’ em Cannes, estreia no Brasil

“Grand Central”, filme da diretora francesa Rebecca Zlotowski, traz Tahar Rahim (famoso pelo filme “O Profeta”) e Léa Seydoux (que acaba de fazer mais um grande sucesso em “Azul é a cor mais quente”) fazendo parte de um triângulo amoroso ambientado numa cidade francesa aonde a atividade local gira em torno de uma usina nuclear.

A princípio, o filme parece ser direcionado ao realismo social, tão comum ao cinema francês atual, mas logo percebemos que a diretora se divide entre criar um contexto para o grupo de personagens que ali vivem e criar uma história de amor proibida entre o rapaz recém chegado e a mulher de um de seus colegas de trabalho. Entretanto, ao dividir sua intenção, não acho que ela consiga fazer nenhum dos dois muito bem.
A forma fílmica é velha conhecida daqueles que acompanham o cinema francês: câmera na mão, seguindo suas personagens, longos takes dos atores refletindo suas decisões e sentimentos, muitos closes, poucas palavras, verdades não ditas e imagens metafóricas que servem para ilustrar o descaso, a solidão ou qualquer outra emoção dos protagonistas.

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O universo da usina nuclear como pano de fundo é interessante por sua originalidade e por trazer à mente questões imediatas, tais como a sanidade física dos trabalhadores e suas condições de trabalho. Me lembrou histórias de grandes filmes dos anos 40 (Ex: “Como Era Verde Meu Vale”, “Vinhas da Ira”), que se passavam em cidadezinhas aonde a possibilidade de trabalho era apenas uma, seja nas minas, ou na colheita. Locais aonde não existe opção, não existe escolha. Onde as pessoas com quem você se trabalha se tornam confidentes, quase familiares. Onde o universo familiar e o profissional de misturam.

Gary (Tahar Rahim) acaba de chegar e seu maior interesse é ter um pagamento garantido no final do mês. O valor não é substancial, os riscos são grandes e ele ainda tem que passar por um período de iniciação e aprendizado, ganhando menos. Tudo isso não é o bastante para desanimá-lo, a ponto de preferir ocultar pequenos acidentes que denunciariam sua exposição indevida a radioatividade.

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Essa pulsão pelo perigo com os olhos no prêmio lhe serve da mesma maneira em suas escolhas românticas. Depois de um primeiro beijo “inocente” que Karole (Léa Seydoux), noiva de um de seus colegas, lhe dá na frente de todos no bar para exemplificar como é sentir a excitação do risco, os dois começam a se encontrar regularmente. A relação, que parece estar se encaminhando para algo a mais do que apenas alívios sexuais, não consegue demonstrar tal progressão suficientemente através dos acontecimentos. Aquilo que impede a personagem de largar um ou o outro fica no mundo das ideias e das expressões caladas da bela atriz, mas a falta de cenas ou diálogos que implementem a história e tragam peso para as decisões da mesma enfraquece o triângulo amoroso.

A situação social tampouco é bem explorada. Temos alguns personagens além dos três principais que tentam se desenvolver nas pequenas oportunidades que têm, seja cantando numa reunião de amigos, seja bebendo num bar, mas ainda assim, esses momentos de lazer e até os de preocupação e tristeza ficam soltos num mar de pinceladas artificiais que tentam representar o isolamento e a sensação de comunidade que lá reinam.

“Grand Central” é um filme que traz boas atuações e uma premissa interessante situada num ambiente particular, mas acaba se perdendo na sua vontade de emocionar o público e gerar reflexões em torno do niilismo da juventude francesa desesperançosa.

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