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“João, o Maestro” se ilude em meio a tanta autoveneração

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As biografias geralmente trazem em si a dimensão do cinema como ponto de vista. Isso é fica bastante sintomático no juízo de valor que se faz de seu resultado. Dita isso, ao analisar João, o Maestro temos a sensação do quanto isso pode jogar contra seu próprio fim. A biografia de João Carlos Martins mostra a vida do pianista e maestro desde que era uma criança considerada um talento acima da média no piano.

Ao longo dos anos, João ganha fama e passa a tocar nos melhores lugares do mundo. No auge do sucesso, sofre um acidente que prejudica os movimentos da mão direita. Problema agravado com outro acidente, dessa vez um assalto no exterior, que o faz ter de se reinventar para poder ainda viver de sua paixão e ofício. Escorado em filmar biografias, o diretor Mauro Lima (de “Meu Nome Não é Johnny” e “Tim Maia”) demonstra expertise técnica, com boa reprodução de época e fotografia estilizada.

O problema é que como roteirista, o diretor vacila no tom de veneração da história, já por demais catártica em sua essência. Interpretado ao logo da projeção por diferentes atores (Alexandre Nero, Rodrigo Pandolfo e Davi Campolongo) – todos muito bons, porém ainda mais vívido com Pandolfo – a narrativa perde ao não concentrar a biografia na perspectiva do maestro, em suas percepções e retóricas.

Assim, o filme acaba caindo numa reiteração distanciada do profissional, deixando escapar a complexidade que poderia ser investida no homem. Para piorar, ainda faz uma propaganda nada sutil e muito questionável no todo à Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP), que por mais que faça realmente parte da trajetória, sobretudo, benevolente do biografado, não escapa de um tom meio institucional na abordagem. Sendo assim, João, o Maestro erra no enfoque, especialmente quando o acerto estava justamente num autofoco. 

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