AcervoCríticasFilmes

“Jojo Rabbit”: o coração de uma parábola satírica

Compartilhe
Compartilhe

Dentre as tantas representações do Holocausto para o cinema ao longo dos anos, a sátira sempre se mostrou das mais eficazes, sobretudo para alcançar uma reflexão muito mais complexa que simplesmente comovente. O Grande Ditador, uma das mais clássicas iguarias de Charlie Chaplin, talvez seja o exemplo mais bem acabado nessa proposta.

Jojo Rabbit como um todo, funciona, mas também expõe o desafio da aritmética em forma, conceito e principalmente discurso. Baseado no livro de Christine Leunens, o longa se passa na Alemanha , em fins da Segunda Guerra. Jojo (o carismático Roman Griffin Davis) tem 10 anos e já um “nazistinha” convicto e que trata Adolf Hitler (Taika Waititi, o diretor do longa) como amigo imaginário. Um dia, ele descobre que sua mãe (Scarlett Johansson) está escondendo uma jovem judia (Thomasin McKenzie) no sótão, o que o faz entrar em conflito com suas crenças e emoções precoces.

Waititi tem uma pegada de humor mais cool, como que para brincar bem com os sentimentalismos que lança mão. Isso pode ser visto em todos seus filmes anteriores, incluindo o divertido Thor: Ragnarok. Sua adaptação reflete sua identidade cinematográfica, até pelo fato de o livro da qual a história parte, ser muito mais dramático que sua adaptação.

A caricatura em cima do regime e seu mentor diante da seriedade do acontecimento histórico, funciona numa linha tênue finíssima que separa a piada da sátira. É como se o diretor usasse o absurdo da situação em si e transformasse em crítica farsesca.

As performances coadjuvantes de Sam Rockwell e do excepcional ator mirim, Archie Yates, são símbolos perfeitos. Potencializada pelo bom uso de signos estéticos vindos do design de produção, de Ondrej Lipensky e o figurino, de Mayes C. Rubeo, que, através da inteligente fotografia de Mihai Malamaire Jr, nos remetem facilmente ao universo plástico e lúdico de Wes Anderson.

O equilíbrio entre razão e emoção, porém, vai se demonstrando frágil ao longo da narrativa, quando o diretor não consegue manter o fôlego de sua pretensão – Hitler fica sem ter o que fazer no terço final da história – e a alegoria perde um pouco o sentido, transformando o filme em algo mais cômodo que provocador. Isso não tira o brilho do resultado. Jojo Rabbit é elaborado até onde consegue ir, e Taika, um diretor efetivamente talentoso, que consegue fazer de seu filme um bom exemplar do poder da sátira como crítica e como cinema.

Cotação: 4 de 5 estrelas.

Compartilhe

Comente!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sugeridos
CríticasFilmes

Wicked faz transposição acertada do palco para a telona

Adaptação de musical da Broadway para o cinema é sempre uma manobra...

CríticasLiteratura

Como Treinar o Seu Dragão e Como Ser um Pirata – Uma jornada hilária e cheia de significado

Na época dos vikings todos os adolescentes deviam demonstrar suas habilidades caçando...

ClássicosCríticasFilmes

Joe Kidd (1972): Entre o Clássico e o Revisionismo do Faroeste

O faroeste, como gênero, sempre refletiu o seu tempo, ora reverenciando o...

AgendaFilmes

Mostra CineMina apresentará filmes de diretoras brasileiras no Estação NET

A Mostra CineMina apresentará em pré-estreia nove filmes brasileiros dirigidos por cineastas...

FilmesInfantilTrailersVideos

Como Treinar o Seu Dragão: live-action ganha primeiro trailer

Os fãs da saga “Como Treinar o Seu Dragão” têm motivos para...

FilmesNotícias

Ainda Estou Aqui bate 1 milhão de espectadores nos cinemas do Brasil

O filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, superou a marca...

AnimeCríticasTV

Dandadan: O anime que vai te deixar de queixo caído!

O último trimestre de 2024 trouxe um anime de peso especial, e...

FilmesNotícias

Filme de Star Wars sai do calendário 2026 da Disney

O drama de Star Wars parece mesmo longe do fim. Apesar de...