Lembram-se daquele sonho distante chamado Mulholland Drive?
Tendo como diretor o cineasta surrealista David Lynch, o roteiro da produção ganha uma estrutura de apresentação e uma singular temática rentes ao cotidiano uso no surrealismo.
A história nas palavras do autor: ”uma historia de amor em Hollywood”. Assistam ao filme. É isso. Um drama sobre um relacionamento de duas mulheres em meio ao oportuno carreirismo na Cidade dos Sonhos – observa-se que este é o titulo aqui no Brasil. Um acerto, diga-se.
O local da trama é extremamente oportuno: Hollywood. A cidade dos sonhos. Mulholland Drive é uma rodovia da cidade. Enfim, um lugar lindo para se desenvolver a estética surreal do roteiro – o titulo brasileiro realmente acertou. O tema desta metrópole: a indústria de sonhos e seus bastidores. Dos testes aos relacionamentos das estrelas. Tudo o que estes sonhos, essa singular temática da cidade, pode fazer com os relacionamentos, e ainda mais, o que Lynch pode fazer com os sonhos.
Os sonhos. Lynch age na estrutura do filme para aproximá-la das artimanhas do mundo onírico. A personificação de sentimentos, como anseios e medos, em personagens, objetos e até mesmo cenas, em um jogo simbólico rico de referências do subconsciente do sonhador (vermelho/azul, chave/fechadura); O grandioso recurso da remontagem da linha de espaço e tempo cronológico narrativo, colocando as rotas de entrada e saída. Tudo conforme os jogos oníricos.
Os sonhos. Diane (Naomi Watts) sonha que é Betty. Encontrou Rita (Laura Harring) e decidiu sonhar com ela. Porém estavam em Hollywood. Muito deu errado para uma, certo para outra, e muito aconteceu com as duas. Diane desejou que tudo fosse como um sonho, que todos os erros não existissem. Contudo, no Club Silencio ela foi despertada para enfrentar a realidade com as suas decisões e desejos perante a sua Rita.
Club Silencio. O advento desta fabulosa cena é o ápice do filme. Tal construção arquitetada no mundo onírico dos personagens vale-se das experiências sensitivas para provocar o choque do momento abrupto do acordar, do fim dos sonhos – a sublime canção “Llorando”.
Como diz o anfitrião de Silencio: “Escuta-se a banda, mas não há banda.” Uma gravação. O eco da realidade já ecoa depois de tudo findado, no mundo que criamos ao adormecer, nas tentativas frustradas do consciente, jaz, no íntimo, os rolos de filmagens que editamos a bel prazer mergulhados em águas profundas.
O sonho em Mulholland Drive foram a última tentativa de Diane crer na realidade de sua paixão. De experimenta-la sem o desgosto da perda, do fim. Porem Silencio, ao contrario de seu sugestivo nome, grita à realidade. Sinceramente, uma simples história de amor, primada pelo drama e pela estética. O surrealismo de Lynch não procura o que está fora do cotidiano, mas a s suas possibilidades adormecidas.
Assistam a essa perola do cinema. E depois talvez, depois de se intrigarem com a trama e os recursos do diretor, talvez ainda, lêem esta bonita resenha com todo o enredo ‘arrumado’. Ou podem se contentarem com a lista de ajuda de David Lynch sobre a ‘confusa’ produção.
O amadurecimento representado neste longa é notável se comparado a simplicidade, porem firmeza, do diretor em “Veludo Azul” (Blue Velvet), a caminhada pelos “Twin Peaks” e produções dos anos 90.
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