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Mamonas Assassinas foca no tributo e se esquece do desenvolvimento

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“Mamonas Assassinas – O Filme” é aquela produção que já chega com a plateia ganha. Conta a história do mais meteórico fenômeno da música brasileira, que, em apenas 8 meses, vendeu mais de três milhões de cópias, esgotou ingressos de shows e era onipresente na mídia. Essa explosão foi abruptamente desvanecida com a morte de todos os integrantes da banda, em um acidente aéreo. O desenvolvimento de um longa para o cinema era aventado desde a tragédia, mas levou 27 anos para se concretizar.

De forma bastante retilínea, o filme conta a trajetória de Dinho (Ruy Brissac), Júlio (Robson Lima), Bento (Alberto Hinoto), Sérgio (Rhener Freitas) e Samuel (Adriano Tunes), rapazes de Guarulhos que formavam uma banda de rock que se levava a sério, mas não obtinha êxito comercial. Justamente após decidir mudar o direcionamento musical para o besteirol, trocando o nome do conjunto para Mamonas Assassinas, com “pérolas” musicais como ‘Vira-Vira’, ‘Pelados em Santos’, ‘Robocop Gay’, ‘Mundo Animal’ e outras, os rapazes alcançaram o tão sonhado sucesso de uma maneira estrondosa e em um curtíssimo espaço de tempo. Mas o quinteto também precisou lidar com os conflitos e armadilhas que a fama traz.

Se a história dos Mamonas era desde sempre um material literalmente pronto para o cinema (mesmo se os garotos não tivessem morrido), não seria de difícil execução. No entanto, a produção resolveu focar no tributo à marca, esquecendo-se do primordial: o desenvolvimento.

Cinebios de grandes nomes da música possuem aquela estrutura clássica da qual é difícil escapar: a árdua luta para chegar ao estrelato, as criações dos hits, as turbulências e a redenção final. O longa dirigido por Edson Spinello, com roteiro de Carlos Lombardi (autor de novelas, entre elas “Uga Uga” e “Kubanacan”) segue à risca esses ditames, mas se perde focando em outras direções que não têm tanta relevância, esquecendo-se de explicar os elementos que fizeram com que os Mamonas se tornassem uma coqueluche. A transição de estilo da banda Utopia (como o conjunto se chamava quando tinha pretensões mais sérias), que renderia um belo arco dramático, não tem o devido peso. A própria repercussão na mídia é pouco explorada. E a edição truncada junto com uma direção em vários momentos claudicante deixa o produto final com cara de produção feita às pressas.

Essa falta de cuidado pode ter se dado por conta de o filme ser, na verdade, uma versão condensada da série que não tem previsão para estrear (o que explica o aspecto de telefilme, em alguns momentos até telenovela). Ainda assim, a edição deveria ter sido feito de forma mais acurada, sem gerar confusão no espectador nem deixar pontas soltas.

As canções, que deveriam ser o trunfo, também não ganham o destaque merecido. Ao contrário de “Nosso Sonho”, que acertou ao contar tão bem a história de Claudinho e Buchecha, aqui parece que as músicas são mero detalhe, sem muito protagonismo. As apresentações ao vivo são reproduzidas com fidelidade, mas as montagens canhestras com imagens de arquivo da plateia dos shows causam o efeito contrário da imersão. Até mesmo a viagem no tempo para os anos 1990 proporcionada pelo filme dos funkeiros não parece ter sido uma preocupação primordial da cinebio dos Mamonas.

Se há algo que pode ser considerado um acerto incontestável é a escolha do elenco. A caracterização é irrepreensível, inclusive no antes da fama (quem é fã e conhece as fotos de arquivo pode comprovar). Beto – que é sobrinho de Bento, o que favoreceu muito por conta da semelhança física – e Ruy já fazem parte do projeto Mamonas Assassinas O Legado, que realiza shows ao vivo reproduzindo as apresentações da trupe garulhense, o que facilitou bastante o processo. Já os demais aprenderam seus instrumentos e o resultado na tela é satisfatório.

Goste ou não de Mamonas Assassinas, é inegável que a banda protagoniza uma das páginas mais importantes da música brasileira recente. Portanto, ainda que o filme seja apenas uma peça dentro de um projeto maior (incluindo a já mencionada série, shows e qualquer outro derivado que possa vir a render), merecia ter um acabamento mais caprichado. Foram 27 anos de espera e a sensação que fica é que a cinebiografia definitiva ainda não veio.

Mamonas Assassinas - o Filme

Mamonas Assassinas - o Filme
5 10 0 1
Nota: 5/10 - Regular
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