AcervoCríticasFilmes

“Mogli, O Menino Lobo” é um deslumbre visual

Compartilhe
Compartilhe

Extraídas de “O Livro da Selva”, de Rudyard Kipling, as aventuras do menino Mogli, abandonado quando bebê em uma floresta do subcontinente indiano e criado por lobos, ganharam ainda mais popularidade com as várias adaptações para o audiovisual, de um filme de 1942 a uma medonha versão de 1994. Contudo,o personagem ficou mesmo eternizado no imaginário das crianças do século XX com o longa de animação dos estúdios Disney de 1967, que rendeu até jogo de videogame nos anos 1990, além de uma continuação em 2003.

“Mogli, O Menino Lobo” (“The Jungle Book”, EUA/2016) se insere na atual leva de reedições ‘live action’ que a Disney está fazendo de seus clássicos, da qual faz parte “Cinderela” e o vindouro “A Bela e a Fera”. O plano era ambicioso: um elenco estelar para dublar os personagens criados em CGI, e para comandar o projeto foi contratado ninguém menos do que Jon Favreau, o homem que inaugurou a máquina de faturar dinheiro para a casa do Mickey chamada Marvel Studios, com o filme “Homem de Ferro”.

A história é aquela que todo mundo conhece: ameaçado pelo tigre Shere Khan (Idris Elba no original, Thiago Lacerda na versão dublada), o menino Mogli deixa a alcateia em que fora criado pela loba Raksha (Lupita Nyong’o/Júlia Lemmertz), e embarca em uma travessia pela floresta com destino a um vilarejo humano próximo. Nessa jornada de autoconhecimento, seus guias são a sábia e responsável pantera negra Baghera (Ben Kingsley/Dan Stulbach) e o urso malandro e bonachão Baloo (Bill Murray/ Marcos Palmeira), que o protegem dos perigos que lá habitam, como a cobra Kaa (Scarlett Johansson/Aline Morais).

Da mesma forma que o longa animado, o filme segue a estrutura narrativa da jornada do herói, em que o protagonista se expande além do mundo a que está habituado e conhece sua real importância, só que em um tom mais épico, como já dava para perceber no trailer. O roteirista Justin Marks (de “Street Fighter: A Lenda de Chun Li”) acertou em combinar o humor e a “fofura” da animação com um tom aventuresco e em alguns momentos sombrio, com adrenalina e até sangue. Shere Khan no filme é muito mais ameaçador do que sua um tanto caricata versão desenhada de 49 anos atrás.

E Favreau se sai bem como regente do espetáculo visual concebido pela Weta Studios, a empresa que tornou real a Terra Média e o planeta Pandora de Avatar. O 3D estereoscópico dá a plena sensação de profundidade da floresta que, de tão realista, custa aos olhos acreditar que fora completamente gerada em CGI. Ela existe, respira junto com sua fauna. Na verdade o único elemento real em cena é Neel Sethi, menino hindu-estadunidense escolhido entre milhares de garotos no mundo inteiro. Tanto o cenário quanto os animais surgiram na pós-produção, e a interação do menino com tudo que o cerca é impressionante.

Os bichos, apesar de falarem, mantêm suas características naturais, garantindo uma verossimilhança que, depois de alguns minutos, nos convence de que são reais. O urso Baloo em particular, ainda traz expressões faciais de Bill Murray, como o espremer dos olhos e a risada debochada, mas sem deixar de ser um urso “de verdade”, e fazendo até apagar o trauma recente deixado por seu primo, também digital, que ataca Leonardo DiCaprio em “O Regresso”.

O estúdio parece mesmo confiar no potencial de retorno financeiro da produção, pois a continuação já foi encomendada. E certamente ficará para depois da outra releitura do livro de Kipling, dirigida por Andy Serkis, que a principio estava programada para 2017, mas foi adiada em um ano para manter uma boa distância do lançamento da Disney desta semana.

Por fim, “Mogli, O Menino Lobo” acerta em cheio como filme família, no melhor estilo clássico (e infalível) Disney, mas em sintonia com a nova geração afeita à ação montanha russa. E sim, o número “Somente O Necessário”, tema de Baloo, está ali, garantindo o elemento da nostalgia.

Filme: Mogli, O Menino Lobo (The Jungle Book)
Direção: Jon Favreau
Elenco: Ben Kingsley, Bill Murray, Idris Elba, Lupita Nyong’o
Gênero: Aventura, Fantasia
País: EUA
Ano de produção: 2016
Distribuidora: Disney/Buena Vista

Compartilhe

Comente!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sugeridos
FilmesNotíciasQuadrinhos

Cesta de Cabeças: HQ de terror da DC ganhará filme com Natasha Lyonne

A DC Comics está prestes a trazer mais uma de suas histórias...

CríticasFilmes

“Aqui” traz Robert Zemeckis apoiado em seus maneirismos

Há cineastas que quando anunciam um novo projeto, inevitavelmente criam uma grande...

CríticasMangá

Pássaros que cantam não podem voar, de Kou Yoneda

Yashiro, um líder manipulador da máfia, evita envolvimentos com subordinados, mas se...

CríticasSéries

Minissérie “Irracional” é um thriller com toques de modernidade

Um astro em ascensão, com duas indicações consecutivas ao Oscar de Melhor...

FilmesNotícias

Capitão América: Admirável Mundo Novo tem pior nota de público do MCU

Capitão América: Admirável Mundo Novo, estrelado por Anthony Mackie como o novo...

CríticasSériesTV

Pergunte às Estrelas – série mistura romance e ficção científica

Pergunte às Estrelas (When the Stars Gossip) oferece uma narrativa que combina...

CríticasMúsicaShows

Blitz e Lobão promovem encontro do Rock Brasil Anos 80 no Rio

Dois ícones do rock carioca subiram ao palco do Qualistage no último sábado (8). A Blitz, que...

CríticasSériesTV

Light Shop: Entre a Vida e a Morte é uma jornada existencial no Disney+

No universo do entretenimento global, poucas indústrias têm se destacado tanto quanto...