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Não há motivos para não gostar de Tudo pelo Poder

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Tudo pelo Poder (The Ides of March, no original) é um filme importante por uma série de motivos. Do ponto de vista da carreira de George Clooney como diretor de cinema, trata-se de seu melhor filme. Isso é muito significativo, visto que “Boa Noite, Boa Sorte”, de 2005, já havia sido considerado um obra de inquestionável qualidade. Dessa vez, no entanto, Clooney vai além de apenas uma boa história mostrada de forma competente em linguagem audiovisual, mas toca em assuntos que deveriam fazer as pessoas refletirem.

O governador Mike Morris, personagem de Clooney, é o pré-candidato democrata à presidência dos Estados Unidos. Os meandros de uma campanha política são sempre fascinantes e é nisso que o filme se apoia para ser um sucesso. O mais interessante é ver o que está por trás da retórica do promissor candidato. A sua mensagem, no entanto, é muito clara e merece atenção especial do espectador. Mike Morris fez da economia verde sua plataforma de campanha. Seus discursos, parte crucial de um roteiro que, desde já, tem todos os requisitos para levar um Oscar, eram repletos de mensagens ecológicas. Mas não no sentido chato e impraticável da coisa, como o Partido Verde americano faz há anos sem o menor sucesso. Ele aponta o investimento em tecnologia verde como o caminho para que os Estados Unidos se mantenham na dianteira dos avanços da economia global, como foi na revolução causada pela internet e também, até certo ponto, com a Revolução Industrial. Como estamos a um ano de eleições para a presidência desse país, a discussão é de uma nobreza enorme, principalmente porque nas últimas eleições, o tema foi pouquíssimo explorado pelos candidatos. Há, inclusive, gente muito importante que encara a situação do modo como o tal Mike Morris faz. Vide nosso ilustre ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso, um dos maiores intelectuais do país ou ainda Arnold Schwarzenegger, que foi o governador da Califórnia e colocou este estado na vanguarda da economia verde nos EUA e no mundo. Portanto, o personagem é muito bem amparado na realidade, sem maniqueísmos tolos.

Eu votaria nele.

Tratado o que me parece de mais notável no filme, é inevitável lembrar o quão estrelado e talentoso (nem sempre esses dois adjetivos conjugam) é o elenco. Clooney, inclusive, não é o personagem principal. Toda a trama gira em torno de Stephen Meyers, interpretado pelo agora onipresente Ryan Gosling. Esse é um talentoso assessor de imprensa (olha outro tema caro a Clooney aí: a mídia) que se vê enrolado em várias frentes. Primeiro com a estagiária Monica Lew… digo, Molly Stearns, cuja vida e beleza é dada por Evan Rachel Wood, que arrebata meu coração desde “Tudo Pode dar Certo”, do Woody (o Allen, não o cowboy de Toy Story). Paul Giamatti, fazendo o gerente da campanha do outro pré-candidato democrata, também põe o personagem de Gosling numa situação complicada frente a seu chefe, o oscarizado Philip Seymour Hoffman. Bastou uma proposta e um carinho no ego de Meyers para que a boa relação entre ele e o marketeiro do governador Mike Morris se deteriorasse.  E ainda tem a repórter pentelha feita por Marisa Tomei, que é mais malvada e falsa que qualquer jornalista que conheci. Essa galera, por si só, também faz do filme um bom programa de domingo a tarde. Aliás, se Gosling não levar uma indicação ao Oscar por Drive, esse filme que todo mundo comenta e que eu desgosto, merece uma por The Ides of March até porque, coitado, ele anda trabalhando muito, esse menino.

Com atuações tão boas, um tema tão fascinante e a proximidade com o prêmio mais conhecido do cinema, não vejo porque Tudo Pelo Poder não concorra também ao Oscar de melhor filme. Engraçado pensar que seu maior concorrente deverá ser, justamente, um filme em preto e branco, como o Boa Noite, Boa Sorte de 2005.

[xrr rating=4.5/5]

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