O cinema de carne de Cronenberg

Tocamos a carne oferecida por David. Uma realidade realmente bizarra, emaranhada, técnica. Um cinema de carne a nossa vista.

O cinema de carne de Cronenberg – Ambrosia

Dispensando dados numéricos e geográficos, em meio à pop década de 80 e suas revoluções tecnológicas no cotidiano das pessoas, configuramos o diretor canadense David Cronenberg, dono de uma estética que mutaciona a carne e a tecnologia em curiosa estética cinematográfica, como em seu famoso A Mosca.

É certo que o enredo tipicamente de ficção-cientifica de terror e bizarrices nos primórdios de sua carreira B nos anos 70, como Calafrios, com predisposição para roteiros e adaptações carnais envolvendo sexo, era algo um tanto quanto apelativo, não fosse a plástica feita por ele; notando-se a sua inteligente maneira de conduzir roteiros de entrelace com o real.

O bizarro diretor canadense caracteriza-se por um trabalho geral menos “aberto” do que pela “contracultura” de temas tratados – sadomasoquismo, a deformidade carnal, fetiches considerados anormais –  oferecendo uma visão fartamente humana – assistam a adaptação de Almoço Nu e vejam o trabalho em criar um mundo através de uma visão alucinógena constante, mas ainda ligado aos problemas deste.

O diretor de Scanners, uma espirituosa mini-série de ficção, notadamente excursionou pela ficção cientifica ou mental baseando-se na estrutura do possível cotidiano destas que já dirigiu filmes sem uma plástica notadamente estranha ou “característica”, como Senhores do Crime, mostrando ser um bom diretor em temas fora de sua conhecida esfera, mas ainda revelando pontos seus.

David Cronenberg Os diálogos estéticos do diretor se baseiam nas relações entre corpo e mente – emplastado de carne e artifícios mentais – e a tecnologia, tendo como esta a generalização das manipulações do homem na natureza produzindo o artifical. Ele manipula as primeiras em sua identidade material e reflexos correspondente na segunda, como Crash – Estranhos prazeres – a sensualidade fetichista em acidentes de trânsito.

Seus diálogos opinam certeiramente em meio à cultura e sociedade atual, politizando suas produções. Veja o inteligente Videodrome: suas premissas persistem até hoje e mostram evolução.

Em uma análise geral e rápida de seu conterrâneo, o diretor Tim Burton, vê-se que este possui uma pluralidade de gêneros e temáticas em sua historia cinematográfica, mas difere em sua estilística da estranheza que é pintar o irreal (ou seria surreal?) em cima do real, exacerbando os pormenores caracterizadores em sorrisos alucinados – a loucura de Alice. O estranho, mesmo que em meio a um devaneio ou espanto – mesmo que hilariante. Ele permeia nossas visões fantásticas da realidade para contar tristes fatos.

David Cronenberg, esteticamente por outro lado, abusa do bizarro para tramar em um mundo onde o estranho existe como parte irrevogável do real, ligado a este de formas claramente possíveis. A carne, nossa carne, o corpo, a mente, se manifesta por nós sobre nós mesmos, como se ouve em bom som por Jeff Goldblum na obra A Mosca.

Cronenberg supõe uma realidade possível devido as nossas criações e medos modernos, estende a realidade a partir de nosso próprio corpo. Seu bizarro permeia a carne podendo trazer o nojo de nossa própria constituição e pensamentos.

Tocamos a carne oferecida por David. Uma realidade realmente bizarra, emaranhada, técnica. Um peculiar cinema de carne à nossa vista.

Recentemente altos sobre o diretor apontam para roteiros com embates de ambiente psicológicos e sociais, como o adequado A Dangerous Method, adaptação do livro The Talking Cure de Christopher Hampton, sobre um relacionamento amoroso com ninguém menos que o mestre do mental Sigmund Freud.

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