Já imaginou conviver durante anos com uma pessoa e não saber absolutamente nada sobre seu passado? E ainda por cima descobrir isso da noite para o dia?
Pois foi o que aconteceu com Arnon “Arnie” Goldfinger ao mexer nos pertences de sua falecida avó, Gerda Tuchler, para limpar o apartamento onde ela viveu com o marido, Kurt, por 70 anos. Com a ajuda de sua mãe, irmãos e primos, aos poucos, roupas, jóias e livros foram emergindo e sendo separados, guardados ou passados para frente.
Com isso, surgiram também alguns documentos, retratos e matérias de jornais, que mostravam que seus avós mantinham uma relação de amizade bem íntima com um oficial nazista de alta patente do Serviço Secreto, Leopold von Mildenstein e sua esposa. Seu avô, inclusive foi o responsável por ter trazido o oficial até a palestina e apresentado os costumes judaicos a ele, o que era prontamente repassado para Eichmann (um dos maiores organizadores do holocausto, que foi a julgamento após a guerra e condenado à forca).
Sua mãe, Hannah (a filha mais velha), não fazia a menor ideia de que seus pais tinham essa amizade com o casal alemão. Ela nunca se interessou em saber mais sobre o passado dos pais, pois como ela mesma disse, não foi criada para fazer perguntas, só para obedecê-las. Arnie então começa uma árdua investigação, juntando tudo o que encontra no apartamento do avós e consegue até contactar a filha de Mildenstein. Edda lhe dá ainda mais pedaços de um enorme quebra-cabeça emocional que faz com que tudo fique mais confuso.
E claro, surgem muitas perguntas como: por que ninguém nunca soube disso? Ou por que eles mantiveram a amizade mesmo após a guerra? Munido de muita determinação, Goldfinger não vai desistir até responder à todas as perguntas, ou, pelo menos, algumas delas.
O interessante é notar como uma guerra que aconteceu há mais de meio século atrás ainda mexe e muito com o sentimento das pessoas. E como de uma geração para a outra os conceitos são completamente diferentes. O que para Hannah, mãe de Arnie, é normal para ele, é inconcebível. Como não se interessar por quem são seus pais? É normal ser curioso, mas para a geração de Hannah e Edda, o holocausto é uma ferida ainda em processo de cicatrização. Portanto, não deve ser mexida ou questionada. Você simplesmente acredita que está tudo bem.
A princípio era só Goldfinger e sua câmera, mas conforme mais e mais provas foram aparecendo ele acabou contando com a colaboração de outros cineastas que foram se juntando às filmagens ao longo do tempo, principalmente quando passaram a ser entre Israel e Alemanha. Arnon trabalhou no filme durante cinco anos até que ele estivesse totalmente pronto. Foi uma tarefa difícil mas ele conseguiu. Logo quando estreou em Israel, foi tão bem recebido pela crítica que ficou em cartaz por mais de um ano. Estreando no ano seguinte na Alemanha e no final de 2012 nos Estados Unidos. Ganhou 13 prêmios incluindo o de Melhor Edição no Festival de Tribeca 2012 em Toronto.
É uma ótima pedida para aqueles que curtem saber mais sobre a Segunda Guerra Mundial ou que apenas gostem de documentários. “The Flat” é muito bem feito e nos imerge através de fotografias, reconstituições e entrevistas em uma história antiga, mas ainda muito recente na mente de quem a viveu.
Em cartaz no Netflix.
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