Em 2004, eu estava imerso nas tentativas de passar no vestibular de jornalista na UFRJ, morava com minha mãe e fui ao cinema para assistir ao badalado Homem-Aranha 2, de Sam Raimi. Lembro que saí da sessão maravilhado com a forma com que o diretor souber amadurecer e espetacularizar a saga do aracnídeo com tanta habilidade, entregando um dos melhores filmes baseados em Hqs, preservando sua natureza quadrinista.
Exatamente dez anos depois, eu já estou há alguns anos formado, moro sozinho e trabalho com audiovisual. Ao me sentar para assistir O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro, com direção de Marc Webb sinto uma incômoda sensação de involução. Como se a minha vida de 2004 a 2014 andasse numa linha evolutiva que a franquia não acompanhou. Se colocarmos os dois filmes em perspectiva, a sensação é ainda pior.
O Espetacular Homem-Aranha, de 2012, já foi um desastre, transformando as desventuras de Peter Park numa aventura rasteira digna de Power Rangers. O próprio diretor (vindo do oba oba em cima de seu ótimo 500 Dias com Ela) reconheceu que o resultado não o havia agradado. Com essa continuação, há uma sensível (!) melhora, mas ainda é um filme menor frente a representatividade do herói, um dos mais bacanas do universo Marvel.
Um dos problemas mais gritantes é o roteiro primário que não aprofunda conflitos (Peter entre e sai da neurose de se envolver com Gwen Stacy de acordo com as necessidades dramáticas do roteiro), deixa pontas soltas na história (Gwen investigando um acidente na Oscorp) e ainda trata seus vilões como marionetes descontextualizadas (a razão da fúria de Electro pelo herói é risível). Como no filme anterior, no tocante ao relacionamento de Peter e Gwen (com Andrew Garfield e Emma Stone em sintonia convincente), Webb cria uma espécie de carisma narrativo para emoldurar a jovialidade da relação, sendo sempre muito eficiente.
O clímax final – com um acontecimento que pode chocar os que não conhecem a história original – também convence. Pena que não redima as mais de duas horas de lugares comuns, equívocos narrativos e a certeza de que Sam Raimi faz uma falta gritante ao universo aranha. Ao fim da sessão, fui para casa pensando em como o passado pode ser tão indispensável quando o futuro estraga o presente. Ainda bem que isso só se aplica a filmes ruins…
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