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O Garoto De Liverpool

Bem que John Lennon disse que os Beatles eram mais populares do que Jesus Cristo. Se for contar o número de películas e documentários sobre os rapazes de Liverpool, certamente se equipara aos feitos contando a história do Filho de Deus. Foram vários filmes, telefilmes e documentários tendo como principal o famoso Anthology. No cinema tivemos filmes enfocando geralmente um integrante da banda. Já houve um sobre Paul McCartney e Linda – claro que tinha que passar pela fase Beatles – e até sobre o quinto integrante, Stuart Sutcliffe em Os Cinco Rapazes De Liverpool. Agora, aproveitando o mote dos trinta anos da morte de John Lennon e da recente visita de Paul McCartney ao Brasil, é lançado no circuito nacional O Garoto De Liverpool (Nowhere Boy, Reino Unido 2009) que conta a adolescência de John, período da descoberta do rock e início da busca pelo estrelato, com o desiderato de se tornar um novo Elvis Presley .

Aqui o diretor Sam Taylor Wood optou por contar apenas a fase pré-Beatles da vida de John, até porque o resto da história já fora contado à exaustão. Nessa cinebio, vemos John Lennon interpretado pelo inglês Aaron Johnson (o Dave Lizewski, herói de Kick-Ass) e mostrado no período mais conturbado de sua vida, quando descobre que a mãe que o abandonou ainda está por perto, um trauma que talvez nunca tenha superado. Toda essa revolta se traduzira em Rock And Roll, ou melhor, Skiffle, aquela imitação inglesa do rock americano em um período anterior à British Invasion. John era um misto de Elvis, James Dean e Buddy Holly, tentava emular de toda a forma seus ídolos do outro lado do Atlântico. O filme mostra a formação de sua primeira banda no colégio, os Quarrymen, a entrada de Paul (vivido aqui por Thomas Brodie Sangster de Nanny McPhee) e o início de uma das mais bem sucedidas parcerias da música do século XX.

As atuações estão todas em seu devido tom. Tia Mimi, encarnada por Kristin Scott Thomas (de Quatro Casamentos E Um Funeral, Assassinato em Gosford Park e A Outra) é certamente o grande destaque. A atriz interpreta com elegância e altivez a mulher que foi pai e mãe de Lennon. Julia, mãe de John, vivida por Anne Marie Duff (Em Nome De Deus e Notas Sobre Um Escândalo) é bem desenhada, tem a relevância certa dentro da trama, mas poderia ser um pouco mais explorada do ponto de vista dramático. Há de se destacar também a fotografia de Seamus McGarvey (responsável por Alta Fidelidade e seu belíssimo trabalho em As Horas), que deixa a cinzenta Liverpool com a cara das imagens de arquivo daquele período empalidecendo as cores, procurando se aproximar das fotos e imagens de arquivo daquele período.

O grande problema de cinebiografias é justamente o tempo. Condensar uma vida, ou mesmo um determinado período da vida de uma figura lendária em míseros 90 ou 120 minutos faz com que algumas nuances de personalidade do protagonista sejam deixados de lado, nos fazendo crer que o biografado em questão era unidimensional, possuía apenas a característica na personalidade que o tornou famoso quando sabemos que não é bem assim. Esse equívoco se torna ainda mais presente quando se trata de um rebelde, como Jim Morrison, Cazuza e no caso aqui de John Lennon. Se assistindo a The Doors, de Oliver Stone, ficamos com a impressão de que Jim era doidão o tempo inteiro e não passava um segundo sem lisérgicos, em O Garoto De Liverpool cremos que Lennon era permanentemente rebelde, arruaceiro, de humor ácido. Ok, era na maior parte do tempo, mas havia um outro lado.

No todo, O Garoto De Liverpool não acrescentará nada aos fãs que sabem a vida de John Lennon de trás para frente e com detalhes que não são mostrados no filme, e para quem não conhece a gênese dos Beatles poderá funcionar como curiosidade. Porém, o mais indicado é o livro John Lennon- A Vida, de Phillip Norman. Como introdução, o filme serve.

[xrr rating=3/5]
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Comentários 3
  1. Tive exatamente esta impressão ao ver o filme, no festival do Rio: como introdução até que é razoável mas o tempo apressa o filme e a relação conturbada de Lennon com mãe fica pelo caminho, também.

  2. Gostei da crítica, porém apenas uma ressalva: a direção do filme é por conta de uma mulher e não de um homem: Sam (Samantha) Taylor Wood. Abraço

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