Road movies são filmes cuja ação acontece “on the road”. Caindo na estrada, nossos personagens vivem aventuras, conhecem e interagem com as mais diferentes pessoas e passam por uma jornada de crescimento em um ou mais sentidos. Um dos mais conhecidos e icônicos road movies é o ganhador de cinco Oscars “Aconteceu Naquela Noite” (1934), a partir do qual muito da gramática do road movie foi retirada e passada para outros filmes do subgênero que se seguiram. O Último Ônibus é só mais um road movie, que nada acrescenta ao gênero para se fazer notável.
O idoso Thomas Harper (Timothy Spall) vai empreender uma longa viagem de ônibus entre Escócia e Inglaterra, com ponto de chegada na Cornualha. Minuciosamente planejada, a viagem sairá dos trilhos – embora ele nunca embarque em um trem – algumas vezes, com resultados inesperados para Tom, que não larga sua maleta. Ao longo do caminho, seremos apresentados também a flashes do passado, da vida de Tom ao lado da esposa Mary (Phyllis Logan). Para interpretar Tom e Mary jovens, entram em cena Ben Ewing e Natalie Mitson.
Não nos surpreende em nada o fato de Tom ter sofrido várias perdas em sua vida, mas seguir em frente com determinação. É o amor que o move, amor pela esposa e pela filha. Ele não compartilha histórias com as pessoas que encontra ao longo do caminho, mas toca a vida de cada uma delas de um jeito único e especial.
Fica claro que o objetivo era construir um microcosmo da sociedade inglesa através dos tipos que Tom encontra em sua viagem. Assim sendo, Tom apenas esbarra nestas pessoas e não tem tempo de aprofundar seu conhecimento sobre elas: são personagens planas, cuja história pregressa e posterior de vida cabe à nossa imaginação. Nesta galeria de tipos, é a mulher muçulmana vítima de assédio que se torna a mais interessante, apesar de também não ter profundidade narrativa.
Aos 66 anos de idade, o versátil e querido ator inglês Timothy Spall teve de utilizar maquiagem para parecer mais velho – afinal, seu personagem tem 90 anos! Falando sobre a construção de Tom, Spall destacou a importância que dá à fisicalidade e aos gestos:
“Isso que faz as pessoas serem o que são, e isso explica muito como agem. Uma pessoa da idade desse personagem é frágil. Ele é idoso, vulnerável, mas também destemido a ponto de cumprir com seus objetivos. O fato de ser um ator a vida toda, eu sempre me interesso pelas pessoas, mesmo quando não estou trabalhando, e observo como elas agem, como o tempo passa para cada um.”
Somos convidados, embora não abertamente, a seguir Tom por sua viagem de ônibus que é, na verdade, uma missão muito especial. Uma pena que a aventura não traga nada de novo para nós, que tanto queríamos sair também modificados de mais um road movie.
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