Proust tem uma frase ótima que diz que “A ambição embriaga mais do que a glória.”. Foi em Proust que pensei ao fim da sessão de um dos filmes mais aguardados do ano “O Conselheiro do Crime”. Era muita grife e expectativa num filme só: um elenco que reúne Michael Fassbender, Penélope Cruz, Cameron Diaz, Javier Barden e Brad Pitt; dirigido por Ridley Scott (da qual tenho problemas, mas reconheço seu inegável talento), a partir de um roteiro escrito por um dos escritores mais aclamados do mundo, Cormac McCarthy.
Fora o trailer/teaser que é sensacional. Entretanto a sensação de que o resultado sucumbiu a ambição de seu próprio discurso é latente no fim. Seus grandes pecados se explicam até mesmo por isso. O filme narra a história de um advogado, interpretado por Fassbender, cujo nome nunca é revelado, sendo chamado tão somente de “Conselheiro”, que se envolve na negociação de um carregamento de drogas que está sendo levado do México para os Estados Unidos. O Conselheiro tem uma namorada linda e aparentemente ingênua (Cruz) e uns clientes não muito confiáveis e de caráter duvidoso. Javier Bardem é o “vilão” figura, que faz par com a igualmente excêntrica e obscura Malkina, interpretada por Diaz, personagem que se revela mais importante do que aparenta, e Brad Pitt encarna Westray, um intermediário das negociatas.
McCarthy fez um roteiro expositivo, quase figurativo, com cenas estilizadas (por um Ridley deslumbrado) demais para uma necessidade narrativa. Podemos contar/perceber pelo menos uns cinco momentos que não agregam em nada a história. E isso fica mais gritante quando o desenvolvimento dos personagens se confrontam com o andamento da trama.
O elenco está todo muito bem, com Cameron gritando sua versatilidade e talento, num papel muito conflitante dramaturgicamente. A caricatura do excêntrico papel de Barden também revela-se mais um arquétipo espacial do que outra coisa. Não seria leviano de dizer que trata-se de um filme ruim. É uma história problemática, mas tem grandes sacadas, em que o escritor/roteirista demonstra toda sua visão colérica sobre como a ambição pode ser fatal a um indivíduo e, dolorosamente, ao seu meio.
O desfecho do protagonista (vivido por um Fassbender, mais uma vez, brilhante – ninguém expressa uma dor implícita tão verossímil como ele hoje em dia) através de um perturbador diálogo com um traficante latino, é de se aplaudir de pé. O diretor – mesmo condescendente – também filma sua trama com requintes de realismo gráfico (na violência e no erotização. E isso não é um demérito!) e pulsante. Diria que o filme se salva pelo impacto de sua proposta, mas ao alegorizar esse intuito, acaba por se embriagar pela ambição, deixando a glória para uma próxima (e bem vinda) tentativa. Recomendo, mesmo gritantemente imperfeito.
[xrr rating=3.5/5]
Comente!