Existe expectativa que se justifica pela boa prerrogativa. Os filmes dos irmãos Wachowski pós trilogia Matrix sofreram de pressão prévia, mas também careceram de forma clara da dimensão que os mesmos imprimiram e marcaram o cinema mundial. É um abismo gritante que as mesmas mentes que desenvolveram o universo de Neo e suas implicações (mesmo que o episódio “Revolution” seja algo decepcionante) tenham feito obras tão irregulares como Speed Racer, (de certa forma) A Viagem (que tem seus méritos) e agora, O Destino de Júpiter.
A trama é uma ficção sobre um escolhido também. Na verdade, uma escolhida: Júpiter Jones (a carismática Mila Kunis), nascida sob o céu de Netuno é destinada a algo grandioso. Já crescida, Júpiter sonha com as estrelas, mas vive uma dura realidade como faxineira. Quando Caine (Channing Tatum, numa caracterização tacanha), um ex-caçador militar geneticamente modificado, chega à Terra para localizá-la e a liberta de uma caçada misteriosa, Júpiter começa a vislumbrar o destino reservado a ela desde o início. Sua assinatura genética a marca como a próxima na fila para uma herança extraordinária, que pode alterar o equilíbrio do cosmos.
O que mais impressiona num primeiro momento é quanto o roteiro é pedestre, quase infanto-juvenil, especialmente no estabelecimento de sua dramaturgia paralela, numa tentativa primária de investir numa espécie de guerra interplanetária evocando banalmente Star Wars.
Esqueça qualquer desenvolvimento narrativo. Os fatos vão acontecendo bruscamente, sem qualquer sutileza e não dando nem tempo de vermos a percepção de Júpiter sobre sua nova condição para além da realidade. Essa falta de substancialidade permeia toda a história (os conflitos familiares dos antagonistas são superficiais e até o sempre ótimo Eddie Redmayne investe numa composição errática). O cuidado com a visualidade do filme é uma marca dos Wachowski e as cenas de ação – pirotécnicas – são de tirar o fôlego.
Mas não demora muito para nos tocarmos que os irmãos diretores ficaram tão absortos na ilustração de seu novo universo que deixaram de lado sua justificativa dramática. Assim, O Destino de Júpiter não vai além de uma voltagem técnica. Seria Matrix uma mera sorte de principiante?
Haha Renan, é exatamente isso que penso e ainda nem vi O Destino de Jupiter.
“Seria Matrix uma mera sorte de principiante?” Talvez sim. E quando falo de Matrix não me refiro à trilogia, mas ao primeiro (que deveria ter sido o único) filme
Sim. “Matrix” foi a chamada sorte de principiante. Depois, o que veio foi apenas a pretensão…