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Rock of Ages: Uma Deliciosa Bobagem

Quando a gente pensa que o revival anos 80 se esgotou, se dá conta de que sobrevive bravamente – embora as festas ploc já não sejam mais a febre de uns oito anos atrás. Talvez seja uma prova de que a chamada década perdida teve uma relevância cultural tamanha que teima em não sair da lembrança, principalmente no que diz respeito aos modismos e música. Se na cena musical brasileira temos motivos de sobra para lembrar e relembrar do que rolou de 81 a 90, com nosso rock engajado, majoritariamente politizado fruto de uma recém finda ditadura, os americanos, em tese, deveriam ter uma certa vergonha daquele excesso de frivolidade que foi o seu hard rock exagerado, alienado, mas que deixou saudade por ser…divertido.

Pode parecer estranho para quem tem menos de trinta anos, mas as bandas de rock já dominaram o mercado do disco e as paradas de sucesso, domínio esse que hoje pertence ao hip hop. Isso se deu em um período compreendido entre 1984 e 1991 e a locomotiva desse império roqueiro era o chamado hair metal, que aqui chamávamos de metal farofa. Algumas bandas do gênero até tinham seu valor, mas boa parte era um genérico ruim. Porém, o tempo (sempre ele) se encarregou de transformar todas em “cult“. Rock of Ages: O Filme (Rock of Ages, E.U.A/2012), que estreia nesta sexta, revisita essa época na forma de musical. A trama se passa na Los Angeles de 1987, auge do estilo musical quando a cidade californiana era o epicentro do rock estadunidense e seus clubes eram celeiros de bandas. Curiosamente, muitas delas se originavam de Nova Jersey, mas era na costa oeste que rapidamente eram catapultadas ao olimpo do rock. Até que em 1991 veio Kurt Cobain e a turma de Seattle, e os cabeludos glamourosos foram condenados à extinção. Na história, a jovem aspirante a cantora Sherrie Christian (provavelmente, uma referência à música “Oh, Sherrie”, sucesso de Steve Perry em 1983), interpretada por Julianne Hough, chega à Hollywood sonhando com a fama. Após ter sua mala roubada, é amparada pelo também aspirante a astro do rock, Drew Boley (Diego Boneta). Os dois (óbvio) se apaixonam e compartilham sonhos e esperanças. Sua inspiração é o megastar Stacee Jaxx (Tom Cruise), vocalista da banda Arsenal, que fará um show no bar onde o casal trabalha o Bourbon Room, uma espécie de Rainbow fictício (a casa que era a Meca do rock de Los Angeles na época).

Nessa adaptação do musical da Broadway homônimo de 2006, o diretor Adam Shankman faz uso do mesmo conceito da série Glee (músicas já conhecidas do público inseridas em um dado contexto, como em Moulin Rouge), só que usando Standards do rock dos anos oitenta. E lá estão hinos como “Nothing But A Good Time” do Poison, “Wanted Dead or Alive” do Bon Jovi, “Paradise City” do Guns N’ Roses, “Heaven” do Warrant, “Pour Some Sugar On Me” do Def Leppard, “We’re Not Gonna Take it” do Twisted Sisters, todas nas vozes dos próprios atores. O problema do filme surge justamente quando comparado a uma outra adaptação da Broadway realizada por Shankman, Hairspray. Nela, você tinha a gordinha Tracy Turnblad, uma protagonista irresistível, que fazia com que o espectador torcesse por ela até o fim. Isso não ocorre neste aqui.

O casal de protagonistas é muito bonito, mas serve apenas de escada para os números musicais, as verdadeiras estrelas da trama.  A graça acaba ficando mesmo por conta dos coadjuvantes. A dupla formada por Alec Baldwin e Russell Brand é hilária; Catherine Zeta Jones está divertida como a recalcada esposa do prefeito que promove uma cruzada anti-rock n’ roll; mas o melhor em cena, sem dúvida, é Tom Cruise. Sua personificação do rockstar marrento é perfeita. Claramente inspirado em Axl Rose com pitadas de Jim Morrison (outro astro californiano, só que de outra época), Stacee sintetiza todos os excessos inerentes ao stardom. Cruise, inclusive revelou à revista People que sempre quis atuar em um musical, mas achava a idéia um pouco intimidadora. Agora teve sua chance. Também merece destaque a participação de Mary J. Blidge cuja voz e a presença compensam a falta de força dramática da personagem, a dona de cabaré Justice Charlie. Por ser um filme família, não há sequer menção a drogas, e o sexo é sugerido muito sutilmente. Apenas o Rock n’ Roll é mostrado “sem pudor”.

Em suma, Rock of Ages é uma bobagem, porém uma deliciosa bobagem, na tradição de feel good movies como Grease, por exemplo. O cipoal de clichês e a inverossimilhança do roteiro bem que tentam, mas não conseguem estragar a festa, que se baseia mesmo no poder de fogo pop das canções e na nostalgia que muita gente não assume, mas sente. Rock of Ages é um guilty pleasure, como uma festa ploc e o próprio rock americano dos anos oitenta.

[xrr rating=3/5]
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