Em meio a tanto frenesi escalafobético de efeitos especiais ou pretensão estética em filmes ditos de arte, é um alívio quando assistimos bons filmes que simplesmente contam sua história de forma inteligente e sólida. A Negociação é um exemplo claro disso. A sua pretensão reside em fazer um retrato direto sobre as desinências da crise econômica norte-americana sem abrir mão de um diálogo corrente com o interlocutor. E para tal, o estreante na direção Nicholas Jarecki, escalou o astro Richard Gere, nos fazendo lembrar de sua capacidade de ser bom ator.
A história acompanha Robert Miller (Gere), um bilionário que tenta fechar um grande acordo a fim de tapar buracos financeiros em seus negócios que podem prejudicar seriamente toda a sua empresa. Em sua vida pessoal, as coisas também seguem caóticas, já que mantém uma relação com uma amante há tempos, equilibrando as atenções entre o caso e a família. Tudo muda quando um acidente leva a óbito a amante de Miller e este tenta encobrir o homicídio culposo para que não chegue à mídia e venha a complicar ainda mais as situações quase insustentáveis dos dois lados.
O destaque incontestável do filme é mesmo seu roteiro que acampa todos os clichês desse tipo de thriller, mas não se acomoda na reverberação narrativa: traduz sua simplicidade numa trama envolvente que vai nos enredando amparados por ótimos personagens como o detetive obstinado vivido pelo excelente Tim Roth ou a esposa traída, mas não tão distraída assim, Susan Sarandon, que tem acumulado muitos filmes em sequência após período bissexto na telona. Sendo assim, as viradas (um tanto necessárias) vão renovando o fôlego da história a tal ponto que nem percebemos quando o filme chega ao fim.
Cada vez mais comum em Hollywood, versar sobre a crise financeira vem rendendo filmes notáveis, principalmente por revelar o indivíduo frente às inconstâncias do poder, vide Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme e Margin Call – O Dia Antes do Fim. A Negociação entra nessa conta com a propriedade do diálogo para além do universo retratado. O sentimento de ficar acuado pelas conseqüências de ambições próprias é universal. E o julgamento pelo senso comum também. Dentro de sua simplicidade o filme trafega por esses dois pontos e todo mundo assimila facilmente as correlações verídicas dessa ficção.
[xrr rating=4.5/5]
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