Como Nossos Pais é o melhor filme da diretora Laís Bodanzky. E olha que ela possui uma filmografia muito acima da média. Muito interessante também é ela lançar esse filme na mesma época em que chega aos cinemas brasileiros o excelente Monsieur & Madame Adelman. Ambos se alinham na perspectiva do amor cotidiano e sua desconstrução. Mas o filme de Laís é ainda mais incisivo sobre a vida de uma mulher, no caso Rosa (Maria Ribeiro, no papel da sua vida), uma mulher de 38 anos que se encontra em uma fase conflituosa da vida.
Com duas filhas, Rosa precisa conciliar o papel de mãe com seus objetivos profissionais. Além disso, tenta administrar o casamento, que passa por dificuldades atreladas ao distanciamento cotidiano do marido Dado (Paulo Vilhena). A relação com a mãe, Clarisse (Clarisse Abujamra, em atuação firme e comovente) também passa pela corrosão do tempo e por uma revelação que se torna o estopim para uma complexa autoavaliação.
Laís é um diretora de estética muito arrojada, mas aparentemente simples. Ela está sempre interessada nas minúcias do cotidiano. Daí extrai os conflitos que tão bem desenvolve. Para tal, sua câmera parece estar o tempo todo à espreita dos pequenos fatos. Seja de soslaio pela parede ou pelo uso delicado da luz natural para tornar todos os detalhes mais intimistas.
A inquietude de sua protagonista é bem representada pelo roteiro (da própria diretora, com o ex-marido Luiz Bolognesi), que paraleliza essa auto-descoberta com uma urgente observação íntima de sua relação com a mãe. Enquanto Rosa vai lidando com as frustrações profissionais e inconstância matrimonial dentro de um cotidiano familiar bem ordinário, o filme dimensiona pequenos dramas que afligem a classe média de maneira muito assertiva e crível, o que resvala em questões geracionais e de identidade.
Laís ainda salpica sua história com coadjuvantes tão sedutores quanto erráticos, como o pai de Rosa (Jorge Mautner, brilhante), e amarra bem os desdobramentos de sua trajetória, seja na questão da busca do pai recém descoberto, seja na sua postura frente a uma nova e arriscada possibilidade romântica. Mas se a sutileza cheia de significados da diretora prescinde de grandes catarses, o resultado dessa personalidade sempre tem mais predicados para além do que o filme mostra.
Mesmo que porventura, arranque lágrimas, Como Nossos Pais foi feito para arrancar do espectador algo ainda mais difícil: sua certeira identificação. Nessa habilidade está a justificativa para ser um dos grandes filmes do ano.
Filme: Como Nossos Pais
Direção: Laís Bodanzky
Elenco: Maria Ribeiro, Paulo Vilhena, Clarisse Abujamra
Gênero: Drama
País: Brasil
Ano de produção: 2017
Distribuidora: Imovision
Duração: 1h 42 min
Classificação: 14 anos
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