Prequels são sempre uma boa saída. Melhor até do que as continuações. Sem as amarras da coerência com o que veio anteriormente, são implementadas ali as regras a serem seguidas pelo que vai acontecer no futuro, ainda que as mesmas já tenham sido definidas nos longas que conhecemos. O que torna os prelúdios atrativos é justamente contar uma história semelhante, com outros personagens, tendo a indicação de que ali foi o início de tudo. Daí, “Um Lugar Silencioso: Dia Um” se desprende da jornada da família Abbott para nos mostrar como se deu a chegada dos alienígenas que transformaram a Terra em um local de difícil sobrevivência.

Nesse que é um misto de prelúdio com spin-off de “Um Lugar Silencioso”, uma mulher chamada Sam (Lupita Nyong’o) se encontra presa na cidade de Nova York durante os estágios iniciais de uma invasão por criaturas alienígenas com audição ultrassônica. Ela estava entre as pessoas acostumadas aos ruídos de uma metrópole, até o momento em que precisa, juntamente com outros sobreviventes, aprender a driblar os monstros assassinos, que se orientam unicamente pelo som de suas vítimas.
Já era de se esperar que Michael Sarnoski (“Pig – A Vingança”) se aproximaria bastante da identidade visual estabelecida por John Krasinski. Todavia, a mudança de cenário para o ambiente urbano evidenciou as marcas da destruição causada pelos aliens. E por falar neles, as criaturas aparecem de forma mais ameaçadora (e gráfica), havendo uma considerável substituição da tensão e do suspense pela ação. O que tornou “Um Lugar Silencioso” tão marcante foi ter sido praticamente todo pontuado pelo silêncio. Isso também ocorre aqui, embora com vários momentos em que há a quebra exigida pela correria. A mudança de tom pode ser comparada com a de “Aliens: O Resgate” em relação a “Alien: O Oitavo Passageiro”.

O roteiro foi escrito por Sarnoski juntamente com Krasinski e Bryan Woods, roteirista das partes I e II, para que a coesão fosse mantida, afinal de contas, apesar de se tratar de uma outra história, protagonizada por outros personagens, não deixa de estar diretamente relacionada com os eventos dos filmes de 2018 e 2021. Ainda que não apresente grandes acréscimos ao cânone (apenas detalhes que já até podíamos perfeitamente imaginar), tenta imprimir uma dinâmica própria, embora acabe mesmo por se restringir ao que fomos apresentados nos outros longas. Ocorre que, no final das contas, olhando rigorosamente, acaba sendo um prólogo desnecessário, uma vez que não vai muito além do que calculávamos que teria sido o primeiro dia de invasão.
Como de costume, Lupita Nyong’o carrega a trama com imponência (mesmo que um pouco diferente da que estamos acostumados, reforçando sua versatilidade) e constrói uma personagem crível, o que reforça o senso de perigo, dada a veracidade e humanidade. O mesmo ocorre com Djimon Hounsou. A escolha de ambos foi bastante esperta, pois, sem eles, seria apenas mais um filme de invasão alienígena. Já Eric (Joseph Quinn) e Reuben (Alex Wolff) servem mais como escadas na jornada da protagonista.

Ao final de “Um Lugar Silencioso: Dia Um” fica a pergunta: por que não investir na parte III, anunciada com um claro gancho deixado pela parte II, e sim apostar em um spin-off/prelúdio? É certo que o público preferia acompanhar o destino da família Abbott a visualizar um acontecimento plenamente compreendido, embora não mostrado. Pode ter sido um teste em relação ao poder de fogo da marca. Caso a bilheteria seja satisfatória, outras histórias serão contadas naquele universo, e, quem sabe, adicionando elementos que o enriqueçam.
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