Cultura colaborativa! Participe, publique e ganhe pelo seu conteúdo!

#vemprarua – A juventude em Depois de Maio

“Eu tenho medo de perder a minha juventude”, disse Gilles para a sua amada Christine quando a reencontrou depois de um longo período afastado. É uma cena de Depois de Maio, filme escrito e dirigido pelo francês Olivier Assayas. Embora seja de 2012, a obra-prima está em cartaz em São Paulo e no Rio há mais de um mês (corra, portanto). O filme é sobre a vida de um grupo de jovens revolucionários quaisquer depois que passou o auge das greves gerais que pararam a França em maio de 1968. De tudo que vi e ouvi nas 2 horas e 2 minutos em que fiquei na sala do cinema, a frase acima foi o que mais me chamou a atenção. Seja por motivações pessoais: eu que sempre tive (e tenho) o medo de ver a juventude passar sem deixar grandes histórias para contar aos bacuris. Seja por motivações circunstanciais: o elemento romântico do revolucionário que para as cidades para protestar, mesmo que muitas vezes nem tenha uma pauta muito concreta e viável, me parece ter sido a semente do momento histórico que o Brasil vive.

Olivier Assayas mesmo esteve envolvido com os protestos que se espalharam pela França em 1968. Seu belo filme, diz-se, tem um quê de autobiografia. Se é verdade ou não, não importa. Assayas nos convence de que sabe do que fala. A narrativa é centrada na história do jovem Gilles, um pintor um pouco sem rumo. Gilles embarca numa vida sem muitas amarras depois que se vê sob o risco de ser preso caso fique na França. No coração, leva um amor mal curado, como todo artista que se preze. Tanto Gilles quanto os personagens auxiliares formam um retrato romântico do idealismo e da liberdade da juventude. Liberdade da qual, confesso, senti inveja. Fugidos da França, o grupo vai para a Itália, onde encontram um ambiente igualmente efervescente, com arte de todo o tipo e por todo lado clamando por transformações. A arte é uma forma tão romântica de garantir que não se perde a juventude, não é? E na toada do revolucionário sem causa que abandona tudo em troca de nada há a abundância de tempo. O tempo para ler livros na tarde de segunda-feira, o tempo para rabiscar as ideias mais mirabolantes de filmes, quadros, contos e tudo mais, o tempo que permite a um personagem viajar a Cabul como se fosse ali a Juiz de Fora. As discussões acaloradas das noites sem fim, repletas de bebidas, risos e ímpetos. Não sei se é uma impressão geral, mas esse frescor da liberdade juvenil, moleque, marota dos personagens principais de Depois de Maio me encantou.

Quem canta seus males espanta

Se visto por mais jovens brasileiros, perigamos formar uma massa ainda maior de universitários rebeldes. Não no sentido pejorativo da palavra, mas no sentido lúdico, gracioso, memorável. Não só para dizer mais tarde que apanhou da polícia por 20 centavos, mas também para contar que na noite anterior sentou no gramado da USP e tocou violão, aí discutiu a relação entre Foucault e o cinema de vanguarda argentino e então fez sexo no gramado. Para não falar dos entorpecentes. Quem faz isso, mancebo? Gilles e sua trupe fariam! Ah, fariam! Porque eles não são bobos nem nada. Mas nem tudo são flores. Assayas também mostra a angústia dos sem lenço e sem documento. A linha é tênue entre o ócio criativo e mágico e a vagabundagem rotunda e maléfica. Chega de adjetivos, meu povo. A verdade é que para convence-los a ver Depois de Maio, bastaria dizer que os personagens têm medo de perder a juventude. Eu também.

Compartilhar Publicação
Link para Compartilhar
Publicação Anterior

“Depois da Terra” fracassa na intenção e principalmente na falta dela

Próxima publicação

Neil Gaiman nos leva de volta a infância em seu “Oceano no Fim do Caminho”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Leia a seguir

Cenas de Rorschach

Depois da correria que foi postar a premiação do Oscar ao vivo no domingo a noite (agradeço ao Lam e o Victor…