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“Warcraft” traz a dignidade aos filmes de game

Coqueluche nos PCs nos anos 1990, Warcraft é uma bem sucedida franquia de games da desenvolvedora Blizzard Entertainment, que surgiu em 1994 com o título Warcraft: Orcs & Humans. Tratava-se de um RPG de estratégia em tempo real que girava em torno de uma guerra entre humanos e orcs em Azeroth, mundo fantasioso à semelhança da Europa medieval. Como tudo relacionado a universo fantástico, Warcraft bebia no RPG Dungeons & Dragons e, claro, no pai-de-todos da fantasia, “O Senhor dos Anéis” de Tolkien.Com o sucesso nos videogames, o título transmigrou para outras mídias que expandiram ainda mais seu universo como jogo de tabuleiro, RPG e livros. O próximo passo era o cinema. Uma versão cinematográfica já era aventada há tempos, mas foi em 2013 que a Blizzard divulgou nota que estaria para ser produzido um filme baseado no game, anunciado anteriormente para 2009.

O resultado pode ser visto a partir de hoje nos cinemas de todo o Brasil. Em “Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos” (Warcraft, EUA/2016) somos apresentados ao por ora pacífico mundo de Azeroth, onde é deflagrada uma guerra entre a civilização erguida pelos homens e uma horda de orcs que atravessa o portal negro para colonizar terras que ofereçam a prosperidade que as suas já não provém. Com a abertura do portal, os dois mundos se conectam, um exército enfrenta destruição e o outro enfrenta a extinção. A partir de lados opostos, dois heróis são definidos em uma rota de colisão que irá decidir o destino de sua família, seu povo e sua casa.

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A produção da Blizzard em parceria com a Universal Pictures e Legendary Pictures vem com o desiderato de estabelecer uma nova era dos filmes baseados em videogames, assim como “X-Men” de Bryan Singer fez pelos filmes de super-heróis. 23 anos se passaram desde o pavoroso “Super Mario Bros.”, e agora, finalmente, temos um filme baseado em games realmente digno. A seu favor, “Warcraft” tem um vasto universo e rica mitologia a se explorar, ao contrário do mundo bidimensional de “Mario Bros”, da pancadaria de “Street Fighter” e da sistemática caça a zumbis de “Doom”. Mas a transposição de Azeroth para a telona não seria bem sucedida se não fosse capitaneada por alguém que entende muito do assunto.

O diretor Duncan Jones, filho de David Bowie, que tem em seu currículo a boa ficção “Lunar”, é fã confesso do universo de Warcraft e deixou bem claro que assumiu o projeto para entregar um filme com o máximo de fidelidade ao jogo. Chegou a proclamar em entrevistas o fim da era das más adaptações de game para o cinema.

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O roteiro assinado por Jones e Charles Leavitt (de “Diamante de Sangue” e “No Coração do Mar”), está longe de ser uma reinvenção da roda. Segue os ditames de uma aventura fantástica tradicional, com herói valoroso e sua missão – no caso, Lothar (Travis Fimmel) – detentores de magia poderosa,forças do mal, etc. Mas, talvez até por isso mesmo, funciona, e acerta em dar foco aos dois lados da batalha, ao invés de contar a história apenas da perspectiva dos humanos. Os orcs, raça do guerreiro Durotan (Toby Kebbell), são apresentados com sua diversidade, afinal, são uma espécie dividida em vários clãs e vemos diferenças no visual (barba, cortes de cabelo, adereços) e nas armas empregadas.

E pela primeira vez em uma adaptação cinematográfica de um jogo vemos personagens bem desenhados, que geram alguma empatia de modo a nos importarmos com eles, o que proporciona maior envolvimento do espectador com a aventura. Com a tecnologia à disposição, o diretor pode recriar um mundo extremamente fantasioso e ao mesmo tempo tangível. O CGI em momento algum parece falso, os orcs e suas armas têm o peso que devem ter, as texturas são realísticas, animais fantásticos parecem realmente estar ali, sem aquela sensação incômoda de estar se vendo um ator interagindo com uma animação. Também é interessante observar o recurso que Jones usou para recriar as tomadas em câmera alta inclinada nas batalhas, que nos remetem diretamente ao game. Os feitiços dos magos também foram reproduzidos fidedignamente, o que estampará um largo sorriso no rosto dos fãs da franquia e de magia em geral.

Jones concebeu seu Warcraft como uma trilogia e o filme dá claramente a deixa para a continuação da história, porém, a bilheteria do filme ainda é uma incógnita. Não se sabe como o público em geral, acostumado a continuações, remakes e adaptações de heróis mais midiáticos reagirá à transposição para as telas de um universo objeto de culto por um nicho, mas não tão conhecido do grande público. No entanto, a produção certamente fará com que os fãs se sintam afagados com o respeito e zelo pelo universo que lhes é caro, e também possui elementos para agradar os aficionados por fantasia, que certamente comparecerão em peso ao cinema, além do público masculino afeito a ação e heroísmo.

“Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos” é sem dúvida o melhor filme baseado em videogame já feito, e se junta a “Angry Birds”, como exemplar atual de adaptação bem sucedida do gênero. Se o vindouro “Assassin’s Creed” também não decepcionar, podemos então ter a confirmação de que a nova era dos games no cinema chegou para ficar.

Filme: Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos (Warcraft)
Direção: Duncan Jones
Elenco: Travis Fimmel, Toby Kebbell, Paula Patton
Gênero: Aventura/Fantasia
País: EUA
Ano de produção: 2016
Distribuidora: Universal Pictures/Legendary Pictures
Duração: 2h 03 min

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