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A História do Rei Transparente, de Rosa Montero

rosamontero“Sou mulher e escrevo. Sou plebéia e sei ler. Nasci serva e sou livre”. Assim começa A História do Rei Transparente, da aclamada autora espanhola Rosa Montero. Em pleno século XII, uma camponesa se torna cavaleiro, indo contra o destino dos servos e também das mulheres. Leola, aos 15 anos, vive em meio a uma guerra. Com seu pai, irmão e futuro marido convocados a lutar, ela se vê sozinha em um campo de batalha. Sabendo dos perigos que uma jovem virgem corre, rouba a armadura de um cavaleiro morto em batalha, se veste com ele e, determinada, decide aprender a guerrear para poder se proteger.

Nada disso seria possível sem Nyneve, uma bruxa que Leola encontra pelo caminho, que a apresenta a um mestre, além de se tornar a fiel acompanhante de Leola. Assim, ela aprende as artes dos combates, e em sua jornada pelos campos da França adquire não só o conhecimento com a espada, mas também o intelectual. Sua vida passa pelo castelo da duquesa Dhuoda, uma mulher linda, porém misteriosa, pelas várias cidades onde se esconde da guerra travada pela Igreja contra os cátaros, formando uma rede de conhecimentos e de relações.

O livro apresenta muitas reflexões sobre as diferenças e, principalmente, sobre crenças. Durante sua jornada pela França, Leola monta um grupo singular, com pessoas com talentos diversos, porém não reconhecidos. A religião é constantemente discutida, levantando questões sobre a verdadeira fé e as mentiras levantadas pela Igreja. Porém, esse não é um livro, digamos, ateu. Aqui, a crença é essencial, e só os fanáticos e controladores são vistos com maus olhos. Os diálogos sobre esse tema são atuais, mesmo se passando no século XII.

Leola, mesmo depois de anos de instruções e com muitos livros na sua bagagem cultural se mostra ignorante em muitas passagens. Seu comportamento chega a ser irritante, e vi ela como tola muitas vezes por conta da repetição de seus erros. Contudo, isso certamente é a artimanha usada pela autora para inserir algum novo conflito, que dá ritmo à trama, além de desencadear sensatas explicações sobre as questões levantadas. É uma mostra de que, não importa o quanto vivemos e aprendemos, sempre haverá algo desconhecido que deverá ser desbravado.

Como romance histórico, o livro apresenta mais aspectos fantásticos do que reais. Rosa montou um mundo medieval diferente de todos os outros sobre os quais eu li, e a caracterização de Leola como guerreiro é tão convincente que em muitos momentos até se esquece de que se trata de uma mulher dentro daquela armadura. Esse mundo, onde a dura realidade antiga se mistura às lendas fantásticas é o que liga a trama ao título do livro, pois o Rei Transparente é pouco citado, sendo possível esquecer-se de sua existência durante a leitura. O título da obra de Rosa poderia ser outro, pois eu não vi nenhuma ligação relevante entre o tal Rei e Leola.

O ponto alto do livro com certeza é Nyneve. Sábia, é dela as melhores citações. É impossível não considerar Leola uma idiota por, tantas vezes, ignorar os conselhos da bruxa, ainda mais depois de anos e anos de convivência. Sem dúvida é emocionante os relatos de Nyneve sobre Avalon, e também hilárias as vagas narrações de como era a sua convivência com importantes personagens das lendas e histórias desse período.

Rosa Montero fez uma boa história aproximando acontecimentos separados por centenas de anos e fazendo isso parecer real. A caracterização dos cenários e personagens é totalmente convincente, embora tudo possa parecer “fácil” e mastigado demais em algumas partes. Mas isso não faz d’A História do Rei Transparente um livro ruim. Ele dosa bem as discussões religiosas e morais com a ação, proporcionando uma leitura agradável e aquele fator principal que prende o leitor ao livro. Recomendo para quem quer ir além das narrações sobre rei Arthur e guerras da época, onde apenas se lê sobre lutas e sangue.

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