Bruna Mitrano, carioca, lança seu primeiro livro, ‘Não’, pela Editora Patuá, no dia 14 de setembro, no café e galeria Glicerina, na Rua General Glicério, em Laranjeiras, a partir das 19h. Bruna Mitrano divulga textos e ilustrações pelas redes sociais há vários anos. Tem participação em coletâneas e jornais literários diversos: Contemporary Brazilian Short Stories (California), Flanzine (Portugal), Jornal Plástico Bolha, Diversos Afins, Germina, Zine Joia, além de ter integrado as antologias Algum vazio nesta paz fajuta e Clube da Leitura Vol. III. Em 2010, esteve ainda entre os vencedores do Prêmio Off-Flip e é autora fixa da revista Mallarmargens.
Além disso, tem experiência árdua, como conta em conversas informais, como professora da rede pública carioca, é mestre em Literatura Portuguesa pela UERJ. Autores contemporâneos, além dos amigos que acompanham suas publicações, esperam ansiosamente pelo seu primeiro livro. Fiz cinco breves perguntas para Bruna Mitrano sobre Não e a experiência da primeira publicação.
Como é a experiência de lançar o seu primeiro livro?
BRUNA: Inquietante. Já pedi à psiquiatra pra aumentar a dose do ansiolítico. É um misto de alegria e insegurança.
Por que o título ‘Não’?
BRUNA: Porque ‘sim’. Tem a ver com a ideia de amor fati, que é o máximo da afirmação – mais que aceitar o acontecimento, é querer, inclusive a dor. Querendo, você domina e pode transmutar. É um Não afirmativo. Acho que quem ler vai entender o porquê do título. Vou deixar o suspense (risos).
Você se descreve como “favelada”: o que significa isso e como é a favelada lançando um livro na Zona Sul?
BRUNA: São duas respostas. A grande (pequeníssima) mídia pinta a favela de cool. Viramos bichos exóticos pros ricos apreciarem. O mais perigoso nesse fenômeno é o próprio favelado acreditar no que ele vê na tevê – mais do que no que ele de fato vive. E isso acontece. Não somos aquela gente sorridente que samba na laje todo domingo, é duro viver aqui. Eu não posso me orgulhar da segregação. Posso, sim, me orgulhar da potência que desenvolvemos, apesar das ferramentas precárias. Por isso me afirmo como favelada. Mais que acessibilidade – à zona favorecida economicamente, à universidade, à elite cultural etc. –, precisamos de visibilidade. De toda forma, essa afirmação é sobre mim, não sobre minha escrita (embora, claro, sejamos inseparáveis). Não acredito em literatura com complementos. Não sou ‘escritora favelada’. Difícil até aceitar que sou escritora. Enfim, esse assunto dá pano e é só a primeira resposta. A segunda: lançar na ZS do Rio é como lançar em qualquer lugar, sou contra limites territoriais; mas, infelizmente, eles existem.
Fale um pouco sobre a escolha dos textos, imagens, ordem em que aparecem, como foi o processo; como a favela entra (ou não entra) em seus textos (em termos de imagens, inspiração ou quaisquer outros)? E o título Não tem a ver com essa ideia de favela, onde parece haver mais não do que sim?
BRUNA: Um amigo disse que sou uma eterna insatisfeita. Demorou muito pra eu escolher os textos do livro e, a cada vez que eu revisava, tirava algum. Quando tomei coragem de enviar à editora, não olhei mais. Se eu continuasse revisando, restaria uma página. Já as ilustrações, bom, eu comecei a desenhar em 2013, por total acaso, sem estudar, sem nem pensar sobre, tinha papel e caneta, bastou. Quer dizer, é algo muito recente, tenho poucos desenhos e alguns declaradamente preferidos. A princípio, o livro seria só de poemas, mas em algum momento percebi que havia um diálogo entre meus textos e desenhos. Deixei que esse diálogo definisse espontaneamente a ordem.
O processo todo foi very loko. Passei seis anos escrevendo na internet e, no início desse ano, decidi publicar um livro impresso. O entrave: eu precisava fazer isso sem pagar, porque, se sou favelada, sou pobre. Acontece que odeio autopromoção, não herdei a veia camelô da minha mãe, uma pena. Eu não queria ficar enviando e-mails pra editoras. Daí que, caradepaumente, anunciei no Facebook que estava colocando a carne pro abate; e tive um feedback bacana dos amigos.
O Eduardo Lacerda, editor da Patuá, pediu preu enviar o livro pra avaliação. Enviei de-sa-cre-di-ta-da. No dia seguinte, a resposta: “que livro lindo, vamos publicar”. Aí foi, tá indo. Quanto à favela, entra como experiência, que é a vivência subjetiva. É dela que extraio o bruto imagético. Não é a temática, não existe um tema no Não, existe uma convergência de afecções. O livro fala de ausências, perdas etc. O sim entra como a afirmação do Não. Esse sim é de resistência.
Inspirada em Antônio Abujamra, pergunto: qual é o grande equívoco que as pessoas cometem ao falar de você?
BRUNA: Acho que o mesmo equívoco que cometem todos: tentar definir. As pessoas têm certezas que eu gostaria de ter, mas duvido bravamente delas.
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