O que esperar de um livro de poesias chamado Cor de Maravilha, de autoria de uma mulher, cuja capa usa tons claros que remetem a coisas bonitas? Certamente, espera-se por versos repletos de sentimentos apaixonados, que falam de amor, amizade, e outras coisas alegres e melosas. Porém, não é isso que a gaúcha Maria Joaquina Carbunck Schissi dá aos leitores do novo lançamento da editora Dublinense. Cor de Maravilha aborda sentimentos contrários a tudo aquilo que se espera da poesia.
Em 96 páginas, a autora envolve o leitor com versos de ódio, inveja, perda, dor e morte. Maria Joaquina cria frases puras, livres de termos complicados e de metáforas difíceis de entender, reunindo todos os sentimentos obscuros que permeiam a alma humana. Os conflitos retratados nos poemas são internos, sofrimentos nutridos pelas suas personagens, que dizem respeito a dores que só elas sentem. São pessoas que devem empregar força absurda apenas para se levantar a cada novo dia, e que buscam no fundo de si mesmas esperança para continuar vivendo.
Maria Joaquina evoca a natureza para dar voz aos sentimentos perturbadores dos quais trata. Cria ambientes hostis e os compara com o que suas personagens sentem. Seus poemas predominantemente curtos são claros e simples, e sem necessidade de rima. Não exigem muita reflexão para entender o significado de seus versos. Por isso, aqueles que ficam com o pé atrás com a poesia podem acabar gostando e se identificando com o que Maria Joaquina escreve.
Os poemas de Cor de Maravilha terminam muitas vezes colocando uma pergunta, fazendo uma ligação com os versos das próximas páginas. Ao se aproximar do fim do livro, as personagens encontram forças para se levantar, abandonam seus medos e receios, mas temem ainda voltar a cair na escuridão onde até então viviam. É o momento onde se percebe que as perdas podem ser superadas. E tudo escrito de uma forma simples que funciona para um poema e passam outra visão do que é poesia.
Cor de Maravilha vale a leitura, até para aqueles que procuram não se aventurar por esse estilo literário. Os poemas curtos são lidos em poucos minutos e absorvidos inteiramente. O estilo simples de Maria Joaquina não empobrece seus versos, só os deixam mais atraentes para a leitura. Ao fim, o leitor curioso apenas pensa em descobrir o que levou a autora a preferir falar do ódio em um gênero que remete tanto ao romantismo. E é capaz de voltar para a primeira página e recomeçar todo livro em busca de uma resposta.
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