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Cotoco, de John van de Ruit

Cotoco, de john van de ruit – ambrosiaQuem não lembra dos seus treze anos? As expectativas, os projetos, os problemas que cada um passou ao entrar na dita pré-adolescência. Uma fase de descobertas e de preparação, repleta de mudanças, sujeita à instabilidade, às antinomias, como alegria-tristeza, responsabilidade-inconsciência, timidez-audácia. Também aos complexos de inferioridade, ignorância e insegurança e a tantos outros antagonismos. Um período tão representativo que rendeu muitas obras literárias, tanto com personagens nessa idade, quanto no período. Para citar alguns exemplos, Oliver Twist, Huckleberry Finn, Tom Sawyer, e o recente Edgar Sawtelle. São todos garotos que vivem verdadeiras peripécias na verde fase de suas vidas.

John Milton é um desses garotos, vive em Durban, África do Sul, no início da década de 1990. Ao receber uma bolsa de estudos para um colégio, John sente-se apreensivo pela oportunidade de entrar num reduto da elite sul-africana e escapar, de certo modo, de sua exótica família. Seus pais pensam que estão enviando-o a um mundo de estudos e disciplina. O que ele encontra é uma escola não menos bizarra do que Hogwarts, com colegas de dormitório para lá de estranhos. Só para exemplificar, veja alguns apelidos: Lagartixa, Rambo, Barril, Esponja, Cachorro Doido, Rain-Man. E Cotoco, o estranho apelido que John recebe dos colegas de quarto, pelo fato de suas partes íntimas serem pouco desenvolvidas. Os companheiros se intitulam Os Oito Loucos, e como a maioria dos meninos de 13 anos, estão mais preocupados com o sexo oposto, competições e brincadeiras das mais escabrosas, como flatular, um “talento” de Barril que desafia o histórico escolar. Juntos, viverão os muitos ritos de passagem que envolvem essa fase da vida.

A narrativa de Cotoco (Spud, tradução de Marcelo Mendes, Intrínseca, 392 páginas) de John van de Ruit, é uma das mais divertidas e engraçadas dos últimos anos. Uma estréia surpreende pela abordagem hilária das desventuras e proezas do seu protagonista, e pela consistência de dar aos seus personagens arquétipos que nos envolve. Mesmo depois de ter terminado o livro, ainda conseguimos achar graça daqueles meninos amalucados.

Bem-sucedido na África do Sul, país de origem do seu autor, cujo senso de humor e olhar exterior dão ao livro consistência, pois não aborda somente o momento decisivo na vida de um garoto, mas também do país, pois era um período de mudanças importantes para os sul-africanos, Nelson Mandela era libertado e desmoronava o regime do apartheid.

Parte O Apanhador no Campo de Centeio, Conjura-a dos néscios, Diário de Anne Frank e Cazuza, de Viriato Côrrea, Cotoco tem muito do humor indigesto, daquele bem grosseiro, à la Pânico na TV. Mas interessa por ser pueril, comum, e vivaz, para não dizer realista em vários pontos. A narrativa é escrita sob a forma de capítulos curtos em um diário, e está repleto das mais diversas aventuras, provações e humilhações pelas quais garotos como Cotoco passam. Relata ao longo do ano as acirradas partidas de críquete, seus devaneios e tentativas de conquistar as garotas, o musical de Oliver na escola, entre outros momentos. Ali, naquele colégio só para meninos, sobrevive aos seus amalucados companheiros, ao sadismo dos monitores, aos professores, onde a única saída é a visita ocasional nos fins de semana ao maníaco e compulsivo mundo de seus pais e de sua avó gagá. Mas o que mais chama a atenção foram as leituras e discussões de clássicos modernos que John faz com seu professor de inglês no internato, como a sobre Ardil-22. Um dom que Cotoco nem imaginava ter, uma sublime consciência literária.

É uma jornada de aprendizado que John terá nas mais de trezentas páginas. Cotoco descobrirá, em meio a suas peripécias, o amor, a lealdade e a amizade. Como enfrentar a intimidação e o bullyng¸ e como lidará com a morte. Há certamente muito de nostálgico para quem já viveu essa idade, mas é um livro perfeito, mesmo que tenha sido escrito para um público adolescente. Os leitores mais velhos irão apreciar pela autenticidade da perspectiva do protagonista. Ótima leitura!

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