Desde 1960, o Brasil comemora em 25 de julho o Dia Nacional do Escritor. A data foi estabelecida pelo então ministro da Educação e Cultura, por causa da realização do I Festival do Escritor Brasileiro, que ocorreu no mesmo ano e foi patrocinado pela União Brasileira dos Escritores, que tinha como vice-presidente um dos autores mais importantes da história literária nacional: o baiano Jorge Amado.
Escritores, ministros, autores: a história da literatura por muito tempo foi reconhecida e contada pelos homens, mas não foi escrita apenas pelo trabalho entregue por eles. Segundo algumas pesquisas, em 1859 foi publicado o primeiro romance escrito por uma mulher, a maranhense Maria Firmina dos Reis, um livro chamado Úrsula. A autora nem sequer assinou sua obra, escondeu-se sob o pseudônimo de “uma maranhense” e começou o livro dizendo: “Sei que pouco vale este romance, porque foi escrito por uma mulher (…) sem o trato e conversação dos homens ilustrados”.
“Diferente dos Estados Unidos, onde, já no século XIX três quartos dos romances eram escritos por mulheres, o Brasil demorou para reconhecer a potência das mulheres que se dedicavam à literatura e à leitura, principalmente porque a alfabetização feminina aqui foi muito tardia em relação à masculina”, explica a pesquisadora de carreiras femininas e cofundadora do Todas Group, Dhafyni Mendes.
A empresária destaca que foi preciso muito esforço, dedicação e talento para que as autoras conquistassem o mercado. “Outra contribuição importante são os movimentos que surgiram recentemente e que incentivam as pessoas a buscarem por obras escritas por mulheres, não só para que elas tenham o devido reconhecimento, mas também para que nós tenhamos mais contato, como leitoras e leitores, com outros pontos de vista, universos e criações, por meio da literatura – seja ela ficção ou não”, lembra Dhafyni.
Autoras brasileiras consagradas, como Lygia Fagundes Telles, Cora Coralina, Hilda Hilst, Carolina Maria de Jesus e Clarice Lispector, inspiraram e abriram o caminho para que outras escritoras contemporâneas tivessem seus livros publicados em grandes editoras, além de gerar o interesse do público em ler o que mulheres têm a dizer sobre os mais variados temas.
Para celebrar o Dia do Escritor, a pesquisadora indicou três autoras contemporâneas – e um de seus livros – para quem quer renovar sua biblioteca ou deixar ainda mais interessante seu repertório de histórias, perspectivas e possibilidades literárias.
- Elisama Santos (Bahia, 1985)
Elisama é psicanalista e autora de três best-sellers de não-ficção. Seu primeiro livro, Educação Não Violenta, foi publicado em 2019 e virou febre entre pais, mães, professores e profissionais da área de educação. Ela também dá muitas palestras e faz conteúdos sobre educação parental e a construção de relacionamentos mais saudáveis, por meio de uma comunicação mais aberta e menos impositiva entre adultos e crianças.
Tem dois filhos e compartilha em suas redes sociais muitas reflexões sobre maternidade, pluralidade e relacionamentos. A linguagem de seus livros é leve, fluida e conectiva, estabelecendo uma identificação imediata entre a autora e quem está lendo. Em 2022, Elisama estreou na ficção, com a publicação de “Mesmo Rio”. “Um livro envolvente e sensível sobre conflitos familiares, que nos faz desenvolver compaixão pelos personagens e reflexões profundas sobre nossas próprias expectativas em relação à família”, conta Dhafyni.
- Lorena Portela (Ceará, 1986)
Lorena nasceu em Moçamba, cresceu em Fortaleza, morou por cinco anos em Lisboa e hoje vive em Londres. É jornalista, foi redatora publicitária, foi colunista no jornal Diário do Nordeste e hoje escreve sobre feminismo e sociedade na Revista Cláudia. Em 2020, lançou seu primeiro livro de forma independente, que vendeu mais de 10 mil exemplares. Ela já está trabalhando em sua segunda obra, mas seu trabalho de estreia, “Primeiro eu tive que morrer”, já disse a que Lorena veio.
O livro é um inventário sobre a auto descoberta de uma mulher que se vê em uma situação na qual não se imaginava: perdida. Ela questiona como, em sua vida, relações tóxicas podem ter se tornado sinônimo de sucesso. “Ao vermos na narrativa uma mulher que quase precisou morrer, literalmente, nos questionamos sobre nossas próprias escolhas e parâmetros de felicidade. A personagem ainda encontra nas dores de outras mulheres as respostas para alguns de seus maiores conflitos internos. Não por acaso, uma mulher brilhante e a quem admiro ptofundamente me indicou esta leitura”, explica a pesquisadora.
- Carla Madeira (Minas Gerais, 1964)
Carla é, além de escritora, professora e sócia de uma agência de publicidade. Diferente das duas anteriores, está na estrada da literatura há anos. Seu primeiro livro, “Tudo é Rio”, foi publicado em 2014, mas demorou 14 anos para ser finalizado e, em 2021, o título levou Carla para a posição de segunda escritora mais lida do Brasil. A própria autora diz que, quando terminou o livro, já sabia que era uma história viral, do tipo que as pessoas querem que os amigos e amigas leiam para comentar sobre.
Além dele, a autora tem outras três obras publicadas, que também estão no ranking da Lista Nielsen Publishnews – publicação mais tradicional do setor editorial – entre os livros mais vendidos de 2023. Carla já recebeu propostas para transformar “Tudo é Rio” em filme, mas ainda não aceitou os convites – uma de suas exigências é que o longa seja dirigido por uma mulher. “Quando alguém me pede uma indicação de leitura, esse livro é minha primeira sugestão. Não conheço ninguém que não tenha ficado extremamente impactado com as percepções das relações humanas ao estar diante de Lucy, Dalva e Venâncio, em uma narrativa escrita de forma visceral e, ao mesmo tempo poética”, conta Dhafyni sobre a obra.
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