Em viagens, o viajante tem diante de si flashes de paisagens, olha pelo quadro da janela – e vê numa velocidade que recorta diante da cena uma estática perdida. A vida seria uma sucessão de eventos que correm nos trilhos do destino. Mas há um escape, uma forma de não lugar e não identificação com o momento, com a presença física que nos dá nome. Quando acabei de ler os contos de “Petaluma” do escritor e professor universitário Tiago Velasco, veio-me à mente que a vida é dês raiz de lastros e rastros, que a memória pode ser um subterfúgio para o disfarce das trocas, como em Cidades invisíveis, do Ítalo Calvino onde o discurso de Marco Polo é refratado por polos bem mais importantes do que a narração propriamente dita. Não que ela não seja o fundamento, mas há na arquetípica constituição humana, os tais elementos onde perpassam as ficções que são as fricções onde o homem-mulher testa seus limites e fronteiras.
No primeiro conto, “Em pedaços”, o personagem Carlos estando no hospital, sai dele e faz uma viagem que me lembrou as passagens de personagens de João Gilberto Noll. Não é apenas uma transfiguração de trânsito, mas de potência, assim como no conto “Ernesto\Andrezza” esta potência esteja conflagrada por alteridades de imagem e de inversões onde o físico é o elemento vagante tão fluído como uma passagem de um rio, onde não se banha duas vezes. Tiago através de uma linguagem modulada em aspectos colores vai a cada conto adaptando o tom das visualizações onde o repertório se adequa perfeitamente ao estilo da estória contada, é o caso da própria narração de Ernesto\Andrezza. Interessante notar até quando o conto fala de uma entidade não viva, o deslocamento se torna significante para o campo moral e ético. É o caso do conto “A morta de São José”, uma boa sátira das maquinações políticas numa esfera em que o humano não mais se refere a si mesmo, torna-se metonímico em seus aspectos narcisos de uma política nada pontificada pela imagem do outro.
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