Patópolis, de Marcelo Coelho

Patópolis, um texto audacioso, numa mistura ficção, memória e ensaio especulativo, envolvendo realidade crítica e os personagens disney

Patópolis, de Marcelo Coelho – AmbrosiaNão deixa de soar diferente o titulo de Patópolis, livro lançado recentemente pela Iluminuras. Não encontraremos nada que possa ser considerado infantil, e sim, uma coletânea de ensaios satíricos e críticos que usam e envolvem as histórias em quadrinhos da Disney. Escrito pelo sociólogo e jornalista Marcelo Coelho, Patópolis tem um tom especulativo e memorialista, pela forma que o autor trilha a narrativa, usando a ingênua mitologia que Walt Disney criou, ante suas lembranças, criticando compulsoriamente tudo a sua frente.

Em releitura da sua infância e adolescência, Coelho não faz só um ensaio crítico com o Pato Donald e companhia, mas um experimento literário sobre essas suas reminiscências, aquela perguntas e inquietações tão comuns aos adultos ao se lembrarem do passado.

Nota-se que o autor conhece bem os quadrinhos que Carl Barks profundou ao redor do planeta, desafiando o leitor a lembrar das clássicas estórias em que Tio Patinhas, os Escoteiros-mirins, Professor Pardal e os Metralhas, entre outros, apareciam. Entretanto, o desafio está na estrutura audaciosa, inquietante e convoluta que o livro se desenvolve. Nada escapa da veia irônica e pessimista de Coelho, da sua própria linguagem erudita aos mitos político-sociais, da cultura de massa à doutrina e dogmas cristãos, da mesquinhez do cotidiano brasileiro a seriedade intelectual da literatura, dos cânones gramaticais ao seu próprio infantilismo e de muitos outros. Temos assim uma profusão delirante em oito capítulos, onde o humor se amálgama com a crítica, compondo uma firme análise da contraditória e claustrofóbica década de 1970.

As questões que são levantadas ao longo da narrativa dão à ideia do que desencadeia o tema escolhido pelo autor. São indagações que se sobrepõem à realidade e remete à chatice das coisas, miniaturizando os próprios meandros do mundo. Entre elas cito: como é possível que patos comam frangos assados? Seria o Mancha Negra inimigo das personagens ou dos desenhistas? Como que os quadros da família dos Três Porquinhos podem ser representados como uma peça de presunto ou uma fileira de salsicha? Seria possível que Heitor, Cícero e Prático concordassem em pendurar tais quadros? Se Pluto é um cachorro, como explicar que Pateta também seja um? Há religião em Patópolis? Essas e outras perguntas são utilizadas, para demolir sistemas filosóficos e ideológicos e até mesmo paixões intelectuais.

Marcelo Coelho medita a cidade de Tio Patinhas em meio a nossa realidade. Uma leitura divertida e sagaz. Recomendo.

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