Salman Rushdie e sua feiticeira

Um forasteiro, vindo do continente europeu, chega à corte de Mahommed Akbar, o Grande (1542-1605), imperador do Império Mughal da Índia e se apresenta como seu parente. E assim começa a narrar ao rei filósofo uma história, de um mercenário florentino e de uma princesa persa, explicando porque afirma ser parente do imperador.

salman-rushdie-4p_1276892661O escritor indiano Salman Rushdie retorna a suas origens em seu último romance, lançado no Brasil, A Feiticeira de Florença (The encanters of Florence, tradução de José Rubens Siqueira.Companhia das letras,  408 páginas, R$ 54,00), uma narrativa que mescla história e ficção e que segundo o próprio autor reivindica aspectos básicos da ‘contação de história’ e confronta duas civilizações distantes: o Império Mughal e o “império” dos Médices de Florença e do pensamento de Maquivel.

Escrito numa prosa tão indescritivelmente bela e interessante, que seus leitores prenderam a respiração involuntariamente inúmeras vezes e eleva o autor ao lugar merecido que tem no universo literário, o de mestre.

O romance propriamente dito é uma narrativa que compila várias histórias, mas mesmo assim continua encantadora. Ambientada nos finais do século XVI, quando um jovem estrangeiro, de cabelos dourados e trajes de arlequim chega à bela cidade de Fatehpur Sikri, no norte da Índia, reivindicando uma entrevista com imperador mongol Akbar o Grande, um sábio e tolerante governante, descendente de Gêngis Khan. O nome do viajante é Mogor dell’Amore (Mughal of Love), portador de um segredo, que revelará somente ao imperador. Assim ele narra sua história: quando um jovem florentino, Antonino Argalia, resolveu tentar a sorte como mercenário e termina no comando das forças otomanas, em seu caminho conheceu uma mulher misteriosa, dona de uma beleza estupenda, versada nas arte de encantamento e da bruxaria, uma princesa mughal, Qara Köz, esquecida pela linhagem imperial, mas que, enfeitiçaria a Florença dos tempos dos Médicos numa jornada que jamais um oriental imaginaria.

Como já abordamos, o romance pode ser lido, como uma história do confronto de duas civilizações. Oriente e Ocidente se encontram numa maravilhosa narração que compila diversas histórias reais, uma abordagem que Rushdie faz num verdadeiro retorno aos aspectos básicos da narrativa em seu estado mais puro. Geográfica, uma pronunciada veia satírica, e uma sutileza ao lidar com sentimentos como honra, vergonha e perdão.

A_FEITICEIRA_DE_FLORENCA_1235930918PA feiticeira de Florença é, também, uma oportunidade de resgatar a imagem de Niccolo Maquiavel, injustamente tratado pela historiografia como um criminoso. Amparada por uma bibliografia abundante, a narrativa de Rushdie fascina, recomendo, para todos os amantes de literatura moderna

 

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