Tóquio de Mo Hayder: o bizarro em dose certa

Início dos anos 1990, Grey é uma jovem inglesa que chega a Tóquio para fugir de seus dramas interiores. Deseja ficar em paz com algo terrível que aconteceu em sua adolescência. Um enigma que liga sua vida a um dos momentos mais aterradores da história da rivalidade entre China e Japão. Ela quer provar que não estar louca e que, ao contrário do que dizem os médicos e seus pais, realmente leu, num livro de capa laranja, sobre a tortura e o massacre que os japoneses praticaram em Nanquim, em 1937 e que a inspirou a cometer um ato bárbaro. Após alguns anos de internação e de pesquisa, rastreia um sobrevivente do massacre que pode ajudá-la, um recluso professor chinês Shi Chongming, que reside na capital japonesa. Será que ela conseguirá o que tanto procura? E o que encontrará?

TOQUIO__1347573038PEu sempre tenho procurado boas histórias de suspense, e as melhores são aquelas que transcrevem os aspectos medonhos da vida real (aqueles que talvez ninguém prefira comentar ou pensar) e depois exagerá-los de modo que não podemos ignorá-los. Quem não se lembra da Carrie de Stephen King? Pois bem, Tóquio (Tokyo, tradução de Marcos Maffei, Record) da escritora Mo Hayder, é um desses livros, sua intensidade assombra, pela abordagem dos segredos e da obsessão humana. A autora traz o tema infanticídio em duas narrativas ambientadas em momentos diferentes, um, nos anos 1930 e outro, nos anos 1990, interligadas com uma intrigante penumbra de sadismo e perversão.

Como uma espécie de amalgama entre O Silêncio dos inocentes de Thomas Harris e O Império do Sol de J. G. Ballard, Tóquio nos leva a mergulhar nas tragédias de uma nação, marcada no semblante do professor e de uma pessoa, cicatrizada em Grey. Hayder tem um cuidado especial em manter o equilíbrio entre o passado e o futuro, desenvolvendo a ação para o leitor sentir o temor dos personagens.

A narrativa utiliza-se do ponto de vista de Grey e da leitura das anotações de diários, me atraindo mais as do professor Shi, pela descrição do cenário cru e nu do massacre de Nanjing. Entretanto, o enredo de coincidências dá certa imperfeição ao que Hayder desenvolve ao trazer a protagonista para o Japão. Por sinal, Glay é uma personagem que apesar da fragilidade física e mental, procura vencer as dificuldades, o descrédito e o temor com perseverança, mas o bizarro leva a confrontar algo que nem imaginaria.

A autora é considerada uma dos melhores escritores contemporâneos, não a conhecia, mas pelo que li, suas histórias levam os leitores a contorcer em mentes doentias e lugares horríveis, com personagens que exploram as profundezas do mal humano. E Tóquio tem essa atmosfera, uma história implicitamente despretensiosa que se torna um bom thriller psicológico.

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