Quando li a notícia, de imediato minha atenção foi direcionada: Indiana Jones encontra Hermione Granger! Para um fã de aventura e fantasia, é uma boa chamada não acham? Logo procurei saber do que tratava aquela notícia, e apesar de ser exagerada, foi uma surpresa. Era de uma nova série que a Editora Intrínseca estava apresentando, do mesmo ilustrador e coautor de “As Crônicas de Spiderwick”, Tony Diterlizzi, que mescla uma narrativa futurística e interatividade em Realidade Aumentada das ilustrações e mapas em 3D.
A série WondLa já tem dois volumes lançados: “Em busca de WondLa” (The search for WondLa, 2012) e “Um herói para WondLa” (A hero for WondLa, 2013) e conta a história de Eva Nove, uma menina de doze anos que nunca saiu de casa e teve contato apenas com uma robô, Mater, programada para assemelhar a uma mãe humana. As duas sempre viveram no Santuário, um refúgio debaixo da terra, longe da luz do sol e de qualquer outro ser humano. Treinada para uma jornada que se aproxima, Eva tem que está preparada para ir à superfície, local que só conhece por meio de holoprogramas. Entretanto, quando um monstro desconhecido invade seu abrigo, a menina se vê obrigada a fugir para sobreviver. Desta maneira, armada unicamente com sua Omnipod, com um desenho de uma garotinha, um adulto e um robô e a estranha palavra WondLa parte em busca de outros humanos num mundo totalmente diferente daquele que Mater lhe ensinara.
O primeiro volume, como toda a trilogia, aborda essa busca da própria identidade. Eva não sabe quem são seus pais, nem sequer se há mais pessoas como ela. Também é uma viagem de iniciação, já que a jovem protagonista desconhece tudo ao seu redor. E, finalmente, é um caminho para que o próprio leitor se aventure na verdade por trás da história de Eva Nove. Por que estava escondida? O porquê daquele nome tão curioso? E a principal pergunta, onde estão os demais humanos?
Já no segundo volume, encontramos Eva, já sabedora de alguns fatos importantes de sua vida, com o caso da clonage (sem spoilers, pessoal) e a ligação com a sobrevivência humana. Descobre que o planeta Terra foi colonizado por alienígenas e agora é chamado de Orbona. Ela viaja a bordo de uma aeronave a caminho de Nova Ática, uma cidade que irá mostrar o lado mais sombrio daqueles que ela tanto queria encontrar. A trama se complica, Eva se ver agora com uma complexa realidade, numa batalha entre o certo e o errado que culminará numa terrível batalha no terceiro volume.
DiTerlizzi cria um elenco incomum, desenvolvendo as criaturas de Orbona com seres reais. Os personagens que encontraremos em WondLa são bastantes variados e bizarros, com uma diversidade de cores e aspectos, mas que são plausíveis ao meu ver, pois ambienta uma evolução dos seres aquáticos que habitam o século vinte. Eva é uma menina cativante, pela simplicidade de ver as coisas, como uma Dorothy pós-moderna, a forma que fez amizade com Andrílio Kitt e Otto, dois coadjuvantes da história, é de uma intenção tão infantil, pura, que não tinha visto em outros livros. O amadurecimento da personagem é crível, a cada página dos dois volumes, mostrada com uma sensibilidade marcante. Sua compaixão e seus sentimentos são abordados com mais teor no segundo volume, e a reação ao encontrar a cidade de Nova Ática
Não é só um livro infanto-juvenil, com aquela ação ininterrupta do começo ao fim, para conquistar os leitores, mas também é uma história que aborda sentimentos como a amizade, a lealdade e o amor, como também temas que cada jovem terá de enfrentar dolosamente em sua vida, por exemplo, a necessidade de pertencer a alguém ou o anseio para caber em algum lugar.
Uma distopia singular construída com uma narrativa rica e incomum, com descrições de um mundo fascinante, que com as ilustrações encantam mais ainda, em especial, pela maneira diferente que o autor apresenta, em Realidade Aumentada, com desbloqueios no site oficial, que também conta com outros recursos. E com a Editora Intrínseca caprichando na edição, com capas seguindo as originais, fontes bem escolhidas, cores das páginas e dos desenhos perfeitas e a boa tradução da Renata Pettengill consegue impor a série para os leitores. Li em dois tempos, ávido pelo terceiro volume, “A Batalha de WondLa”, e já sei que uma produtora comprou os direitos de adaptar a trilogia. Uma série diferente, longe dos clichês, com um conjunto narrativa-protagonistas-cenário único. Parabéns ao autor-ilustrador, que dá um ritmo novo ao gênero infanto-juvenil, como fizeram O Pequeno Príncipe, O Mágico de Oz ou Harry Potter. Recomendadíssimo. Partindo para WondLa.
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SOBRE O AUTOR
Tony Diterlizzi é o mais velho de três irmãos de uma família ligada às artes. Ainda criança começou a desenhar, inclusive usando lápis de cor nas paredes recém-pintadas de seu quarto para ilustrar um Ursinho Pooh. Ao concluir o Ensino Médio, sonhava em fazer livros infantis. Estudou em várias escolas de arte e formou-se em design gráfico em 1992. É ilustrador e co-autor da série “As crônicas de Spiderwick”, que vendeu milhões de exemplares e foi adaptada para o cinema, assim como da trilogia WondLa. Tony trabalha com a esposa, Angela, e moram em Amherst, Massachusetts, com a filha.
Vi em uma livraria e os desenhos de fato prendem a pessoa, são belos e achei exatamente isso sobre ser um livro infanto-juvenil diferente do que geralmente fazem. Está na lista de compras.