David Bowie, que nos deixou no último domingo (dia 10), era conhecido como camaleão do rock, pois sempre mudava seu estilo musical de tempos em tempos acompanhado de uma mudança de visual. Todos temos um Bowie preferido. Essa retrospectiva serve tanto para lembrarmos da fase preferida de cada um de nós como para situar quem quer conhecer melhor a obra do artista.
Fase inicial: Rock e Além
Em 1966, o jovem David Jones lança seu debut trocando o sobrenome para Bowie, a fim de evitar ser confundido com Davy Jones dos Monkees, que despontava em carreira solo.
Três anos depois, chega seu primeiro hit, Space Oddity (estranheza no espaço), trocadilho com Space Odissey (odisseia no espaço) do filme 2001, desconstruindo todo o significado da corrida espacial.
Discos:
David Bowie (1967)
Space Oddity (1969)
Fase Glam: Mudanças, Alienígena e lantejoulas
Influenciado por seu amigo Marc Bolan, do T.Rex, Bowie embarca em uma de suas fases mais emblemáticas, de onde saíram clássicos como ‘The Man Who Sold The World’, ‘Changes’ e ‘Life On Mars’, mas é em Ziggy Stardust & The Spiders From Mars que se dá o auge desse período.
O artista encarna um alienígena bissexual que cai na terra cinco anos antes do apocalipse e se torna um superstar. Com produção de Toni Visconti, é um dos melhores trabalhos de sua carreira e é seguido do niilista Aladdin Sane.
Discos:
The Man Who Sold The World (1970)
Hunky Dory (1971)
The Rise And Fall Of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars (1972)
Aladdin Sane (1973)
Fase ‘Thin White Duke’
Após “matar” Ziggy Stardust em um show que todos pensavam que seria uma despedida da carreira, quando na verdade era apenas uma despedida do personagem, Bowie lançou o ótimo disco de covers “Pin Ups” e o álbum “Diamind Dogs”, inspirado em 1984 de George Orwell.
Logo depois, ele mergulha no soul e no jazz, como pode ser percebido claramente na faixa Fame, escrita em parceria com John Lennon. Nesse período, Bowie estava em Los Angeles filmando “O Homem que Caiu na Terra” e foi uma fase marcada por excessos, principalmente de cocaína, e problemas financeiros.
Extremamente magro, criou a persona do Thin White Duke (duque branco e magro), no disco ‘Station To Station’, para ilustrar essa fase decadence avec elegance
Discos:
Young Americans (1975)
Station To Station (1976)
Fase Berlim
Após os excessos de L.A., Bowie se refugiou em Berlim onde além de se afastar das drogas e da bebida, passou a pintar e absorver arte ainda mais intensamente do que de costume.
O reflexo foi “Low”, que inaugura a chamada trilogia berlinense. É um trabalho experimental, influenciado pelas tendências sonoras alemãs da segunda metade dos anos 70, flertando com a música eletrônica que estava ganhando projeção com o Kraftwerk. O disco é dividido em um lado A artisticamente sofisticado, mas com um viés um pouco mais pop, e um lado B instrumental onde se concentra a verve experimental.
O curioso é que o único disco da trilogia inteiramente gravado em Berlim foi ‘Heroes’. O conceito de ‘Low’ começou a ser desenvolvido ainda na América e ‘Lodger’ não teve uma faixa sequer gravada na capital alemã (foi gravado na Suíça e em Nova York), mas manteve o espírito coeso. De quebra, nesta época Bowie ainda produziu dois álbuns de seu amigo Iggy Pop: “The Idiot” e “Lust For Life”
Discos:
Low (1977)
Heroes (1978)
Lodger (1979)
Fase: Anos 80
Após o disco de transição “Scary Monsters (And Super Creeps)” de 1980, em que de certa forma fecha a tampa dos anos setenta, vem a fase de maior sucesso comercial de Bowie nos anos 80, também chamada de “fase Let’s Dance” em referência à música de maior sucesso da carreira do artista, tirada do disco homônimo de 1983.
Outros sucessos pop deliciosos como ‘China Girl’, ‘Blue Jeans’ e ‘Modern Love’ também compõem essa fase. Embora os discos seguintes não tenham seguido o sucesso de vendas de “Let’s Dance”, os shows lotavam.
Bowie também fazia aparições freqüentes no cinema em filmes em que ou atuava ou participava da trilha sonora, ou ambos, como foi o caso de “Fome de Viver” e “Labirinto: A Magia do Tempo”.
Discos:
Let’s Dance (1983)
Tonight (1984)
Never Let Me Down (1987)
Fase: De volta à vanguarda
Depois de deitar sobre os louros da popularidade radiofônica, Bowie se encantou pela forte cena alternativa pré-grunge encabeçada Pixies e Sonic Youth.
Montou a banda Tin Machine, com guitarrista Reeves Gabrel, o baixista Hunt Sales e seu irmão baterista Tony, que já havia trabalhado no álbum “Lust For Life” de Iggy Pop, produzido por Bowie. Apesar do fracasso de vendas e críticas pouco entusiasmadas, Bowie ainda lançou mais um disco com a banda, “Tin Machine II”.
Em seguida retornou ao Soul, com “Black Tie White Noise”, partiu para o amplamente instrumental “The Buddha of Suburbia”; retomou a parceria com Brian Eno; flertou com o rock industrial em “Outside” e, influenciado pelo Techno e o Drum n’ bass, gravou “Earthling”.
Discos:
Black Tie White Noise (1993)
Outside (1995)
The Buddha Of Suburbia (1995)
Earthling (1997)
Fase: Virada do milênio
Depois de “Hours”, Bowie retomou sua parceria com Toni Visconti e gravou os discos “Heather” e “Reality”, que tinham como característica evocar os melhores momentos da carreira sem deixar de olhar para frente.
Discos:
Hours (1999)
Heathen (2002)
Reality (2003)
Epílogo
Agora tudo faz sentido. Tratava-se de uma despedida. Um disco surpresa após dez anos sem gravar ou fazer turnês, uma megaexposição que rodou o mundo, uma coletânea luxuosa abrangendo toda a carreira, e agora o derradeiro trabalho chamado Blackstar. Enigmático e intrigante, era um epitáfio.
No clipe da música Lázarus só agora percebemos o simbolismo, que diz em sua letra: “Olhem para cá, estou no paraíso/tenho cicatrizes que não podem ser vistas”.
Bowie fez da vida e até da morte uma obra de arte. Acertando ou errando, nunca deixou de ser fiel à sua proposta artística principal: a reinvenção
Discos:
The Next Day (2013)
Blackstar (2016)
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