Além de ter feito seu nome como vocalista da banda cearense Selvagens à Procura de Lei, o cantor Gabriel Aragão mostra que faz, também, MPB em seu primeiro álbum solo, “Rua Mundo Novo”, produzido por Marcelo Camelo. A próxima faixa a ganhar um clipe é “Turva”, uma composição feita a quatro mãos com a parceira recorrente Roberta Campos. E o vídeo, dirigido por Cléver Cardoso, traz uma clareza em suas imagens que gera uma dualidade com o próprio título da canção.
O clipe foi todo rodado no Texas, em uma pitoresca cabana de madeira próxima a um lago – um cenário idílico americano tão associado a filmes sobre o verão, acampamentos juvenis e encontros em família. No clipe de “Turva”, no entanto, Gabriel Aragão surge solitário, cantando em uma cama sem companhia, buscando por sinais entre as árvores, procurando vida no lago lá fora – virando, vez ou outra, um espelho para quem o assiste. Fazia sentido uma composição com tantas camadas ser realizada entre parceiros: Roberta e Cléver.
“Essa é uma das primeiras que escrevi com ela. A Roberta escreve com muita propriedade sobre os desdobramentos de uma relação, com muita ternura, eu já me acho mais ácido. Sempre gostei das nossas parcerias, pois tem essa mistura de dois pontos de vista diferentes. No final da música, sempre me veio o Fagner cantando os versos de encerramento”, Gabriel entrega.
Outra parceria notória no disco é o próprio Camelo, que participa como letrista, além de Laura Lavieri, Tagore e Mateus Fazeno Rock. No mergulho lírico do trabalho estão temas que refletem a vida do nordestino que vive no Sudeste, abrangendo aspectos como a luta pelo seu lugar ao sol, estranhamento, saudade da terra natal, adaptação e superação.
“Rua Mundo Novo” soma a uma discografia que inclui o primeiro EP solo de Gabriel Aragão, “ABRECAMINHOS”, e uma releitura de “Caminando, Caminando”, uma canção de resistência e liberdade composta por Víctor Jara que Aragão regravou ao lado de Mateo Piracés-Ugarte (francisco, el hombre). Esta nova fase veio na sequência da sua estreia literária, “O Livro das Impermanências” (Editora Letramento, 2021) e do lançamento da trilha para o filme “Malhada Vermelha” (indicada ao 30° Prêmio da Música Brasileira).
“Turva” é mais uma faixa do álbum “Rua Mundo Novo” a ganhar uma interpretação visual, solidificando a posição deste trabalho como um dos melhores discos de estreia do ano. Embora pareça curioso partindo de um artista com ampla experiência nos palcos e em múltiplos álbuns com um dos expoentes do rock da última geração, o primeiro trabalho solo de Gabriel Aragão chega com o frescor de um compositor e intérprete que descobre a si ao mesmo tempo que o público.
Nesta nova encarnação – que existe simultaneamente ao lado enérgico do seu trabalho com os Selvagens -, Aragão permite-se explorar outras vertentes e texturas musicais, seja mirando na efervescente cena de música brasileira paulistana, onde mora atualmente; seja nas raízes do seu Ceará mítico, ecoando de Fagner a Belchior; seja nas múltiplas ramificações desse álbum que passam pela produção em Portugal com Marcelo Camelo até a gravação deste mais recente clipe nos Estados Unidos.
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