Um dos maiores expoentes da literatura mundial, Milan Kundera faleceu na última terça-feira (11) aos 94 em Paris. O autor de A Insustentável Leveza do Ser era um mordaz crítico da condição humana. Foi um dos poucos autores a serem incluídos na prestigiosa coleção La Pléiade (em 2011) ainda em vida.
Milan Kundera nasceu em 1º de abril de 1929, na cidade de Brno, na antiga Tchecoslováquia. Ele uma vez mencionou que seu nascimento no Dia da Mentira possuía um significado metafísico, refletindo seu conhecido sarcasmo. Em sua prosa habilidosa, ele entrelaça o trágico e o cômico com discussões existenciais. Seu amor pela música clássica, herdado de seu pai, também se faz presente em seus romances.
Durante sua juventude, Kundera abraçou o comunismo, mas foi expulso do partido em duas ocasiões distintas por apoiar reformas democráticas. A primeira expulsão ocorreu no início dos anos 1950, e a segunda em 1970, no mesmo ano em que publicou “Risíveis Amores”, uma coletânea de contos que explora a arte de ludibriar e ser ludibriado. Em seu romance “A Brincadeira”, ele já havia satirizado a burocracia comunista, retratando um estudante condenado a trabalhos forçados por ironizar o regime em um cartão-postal.
Kundera acabou caindo no ostracismo após sua expulsão definitiva do partido. Para se sustentar, ele trabalhou com serviços manuais, tocando piano e escrevendo sob pseudônimo, incluindo uma coluna de astrologia.
Em 1973, ele lançou “A Vida Está em Outro Lugar”, ambientado na Tchecoslováquia durante a ocupação nazista. Dois anos depois, ele se exilou na França junto com sua esposa, Vera, em busca de liberdade política e criativa. Foi lá que ele publicou “A Valsa dos Adeuses” (1976) e “O Livro do Riso e do Esquecimento” (1979), que focam na vida na Tchecoslováquia após a invasão soviética.
“A Insustentável Leveza do Ser” catapultou Kundera para o sucesso, tornando-se um best-seller inclusive no Brasil, apesar de alguns questionarem o porquê de tanta popularidade. O livro foi adaptado para o cinema em 1988, com Daniel Day-Lewis e Juliette Binoche no elenco. Seu descontentamento com o resultado o fez não mais mais autorizar qualquer adaptação cinematográfica de seus romances. No Brasil, o filme estreou na mesma semana em que foi lançado nos cinemas americanos e permaneceu em cartaz por dois anos.
O último romance escrito por Kundera em sua língua materna foi “A Imortalidade”, de 1990. A partir de “A Lentidão”, de 1995, Kundera passou a escrever em francês, idioma para o qual seus livros já eram traduzidos em todo o mundo. Daí vieram os livros “A Lentidão” (1995), “A Identidade” (1998) e “A Ignorância” (2000),nos quais o autor passa a se dedicar a discussões filosóficas.
Embora seu nome tenha passado a ser cogitado para o Prêmio Nobel de Literatura, Kundera se afastou da ficção nos anos 2000 e só publicou um novo romance em 2014: “A Festa da Insignificância”, que apresenta alinhado à filosofia de Schopenhauer.
Além de seus romances, Kundera também se dedicou aos ensaios. Em obras como “Os Testemunhos Traídos”, “O Encontro” e “A Cortina”, ele se uniu à grande tradição literária ocidental, tendo como companheiros nomes como Cervantes, Goethe, Kafka e Carlos Fuentes.
Seu posicionamento político era constantemente questionado. “Comunista”, “dissidente”, “de esquerda ou de direita”, eram adjetivos atribuídos a Kundera, que invariavelmente respondia: “Não, sou romancista”.
*Com informações via O Globo
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