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Bunsen

Webcomics é ainda uma modalidade de quadrinhos difusa e complexa. È um desafio analisá-los. Por ser ainda um gênero em maturação, com tantas possibilidades e variáveis, fica difícil fazer uma lista plausível. Entretanto, o estímulo de pesquisá-los na web, pela grande variedade de autores, é comparável com aqueles marchands do início do século XX a procura de novos artistas pela Paris boêmia. Sempre gostei de quadrinhos e a partir de uma investigação para encontrar material a uma aula no Ensino Médio, selecionei alguns dessas novidades, que ao longo desse mês de agosto, irei apresentar aqui no Ambrosia.

No primeiro momento podemos notar certa tendência de alguns autores publicarem na internet almejando chegar ao suporte material: o papel. Outros autores, bem menos, não querem sair da virtualidade de sua obra, não dando importância ao mercado. E é nesses últimos que iniciaremos nossa abordagem. Sabemos quanto é fácil postar na rede, como um link pode ser promovido nas redes sociais, e é por aí que os esforços se centram, pelo retorno da publicidade, do merchandising e outros incentivos para obter a lealdade de um público. O mexicano Jorge Pinto aposta nesse tratamento com o seu semanal Bunsen, que mistura ciência e textos cômicos de forma bem dinâmica, ou como ele próprio define: um experimento de comunicação e distribuição.

Como sou biólogo, os quadrinhos do mexicano me atraíram de imediato. Bunsen, um cómic de ciência e chocolate, é protagonizado por dois cientistas, o matemático e físico Dr. Adel Ortega e o químico orgânico Dr. Victor Arroyo. Excêntricos, os dois homens da ciência são uma amálgama geek-nerd entregues aos projetos científicos, se divertindo “torturando” seus animais de laboratório: um rato maníaco-depressivo, um passarinho idealista e dois macacos, pai e filho, quase que humanos.

O título se refere a um dispositivo de laboratório para aquecimento e usa o cenário de uma universidade para contar as peripécias dos cientistas. Mas podem ficar tranqüilos que nenhum algoritmo ou equações será explicado meticulosamente, não precisaremos adentrar no cálculo diferencial, nem mesmo relembrar a tabela periódica para entender as gags que o autor desenvolve. Na verdade, a ciência que encontramos na stripwebcomic é uma justificativa para contar um humor inteligente e irônico, com muitas referências à cultura pop dos anos 1980.

Os personagens lembram imediatamente Os Simpsons de Matt Groening pela cor da pele, mas podemos encontrar alusões aos trabalhos em tiras de Charles M. Schultz, Quino e Bill Watterson. Jorge Pinto consegue desenvolver as personalidades de cada um focalizando problemas emocionais comuns nos dias de hoje, como a ansiedade e a depressão. A ciência e a tecnologia são elementos que servem como anedotário e veículo do humor da série, além de homenagens a grandes nomes da ciência como Edison, Bell, Darwin e Carl Sagan e mesmo  escritores de sci-fi como Douglas Adams (Guia do Mochileiro das Galáxias).

Bunsen é todo construído em photoshop, o autor é designer e desenvolvedor de software e conteúdo digital. O interessante que todo o processo de desenvolvimento da tirinha é visualizado semanalmente quando é postada. A postagem vem deste 2007, e todas convergem às relações sociais de seus personagens, demonstrando suas frustrações e desavenças com o mundo real se refugiando no trabalho, no uso das tecnologias e das redes sociais.Os efeitos cômicos da tira estão baseados no cotidiano e nos hábitos dos personagens, com um pequeno enredo. São hilárias as vezes que aparecem os animais de laboratório reivindicando dignidade e identidade. Pelo todo, Bunsen é divertida, cheia de boas tiradas, com um projeto gráfico simples, mas sensível e atraente.

Recomendo a leitura, está em espanhol, mas vale a pena dar uma conferida. Aí o link: http://www.heroeslocales.com/bunsen/

[xrr rating=3,5/5]
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