D. G. Chichester é controverso? Verdade seja dita, não. Mas tomou algumas atitudes que foram muito controversas, fazendo que com que a Marvel o afastasse do título mensal do Demolidor antes do esperado devido à bizarras reações dos fãs com as mudanças que ele propôs ao herói no que se tornou o final de sua passagem pela revista. Vamos recapitular os principais fatos deste escritor à frente do herói cego e depois comentar a decadência que resultou no cancelamento dela.
Chichester, ao lado do desenhista Lee Weeks, foi responsável por fazer com que Matt Murdock finalmente voltasse a atuar como um advogado legalizado, com um plano fantástico elaborado pelo protagonista. Pouco antes desta saga que ficou conhecida como A Queda do Rei do Crime os autores pegaram o gancho de Ann Nocenti da volta de Matt à Nova York e o coloca novamente ao lado de seu velho amigo Foggy Nelson, respondem por onde andou Karen Page e preparam o terreno para este primeiro grande arco desta nova equipe criativa. Na época de Nocenti, Karen abandonou Matt pelo romance que ele teve com Mary Tyfoid e foi para Los Angeles levantar a bandeira de uma organização anti-pornografia. Mas enfim, o foco aqui não é este, e sim mostrar os principais trabalhar de Chichester.
A Queda do Rei do Crime
(Daredevil #297-#300 / Grandes Heróis Marvel nº 47)
Já no começo da história vemos o Demolidor tirando um grande sarro do Rei em sua sala pessoal no topo do grande edifício Fisk, em Nova York. Deixando a ele um presente: uma foto há muito perdida de sua falecida esposa, Vanessa. Nesta época todos os negócios de Fisk estavam associados à agência terrorista Hidra e o herói planta nas ruas que essa associação está fazendo com que o Rei esteja perdendo todo o seu império.
Jogando sujo como seu arqui-inimigo, Matt vai recuperando aos poucos sua própria auto-estima e posição como herói ao ferrar cada mais com Wilson, recendo uma inesperada ajuda da SHIELD e da própria incapacidade de Fisk de lidar com uma queda tão grande e tão surpreendente. A história não será contada aqui pois é MUITO recomendada a todos que gostam do herói, sendo uma das grandes obras dele. Aliás, mais do que ser uma grande história do Demolidor e de quadrinhos de super-heróis, A Queda do Rei é também um conto policial muito bom, e que poderia facilmente ser adaptado para cinema sem muitas mudanças, pois a narrativa tem a dose certa de conspiração, ação e ótimos diálogos.
A Herança do Rei
(Daredevil #307-#309, Nomad v2 #4-6, Punisher War Journal #45-47 / Superaventuras Marvel nº 156 a 159)
O trabalho de Dan Chichester aqui não é ruim. De fato, a parte dele na história é bem bacana – o problema ficou para a parte dos outros escritores. Quem encabeçou este mini evento foi Fabian Nicieza, que fez um trabalho terrível com o comando da história e com o próprio Nômade. A ideia desta história era a de que os três heróis (Demolidor, Justiceiro e Nômade) estivessem prontos para derrubar toda a máfia de Nova York que tentaria tomar o lugar deixado pelo Rei na sua queda. Porém a execução foi fraquíssima e ela seria uma das histórias mais esquecíveis do herói cego, não fosse pelo status do Rei que durou anos desta forma.
Caindo em Desgraça
(Daredevil #319-#325 / Superaventuras Marvel nº 164 a 168)
Este arco hoje é visto muito melhor do que na época. Quando saiu o celeuma foi tão grande para os fãs do Demolidor que o escritor foi rechaçado por muita gente, apesar de ter o outro lado dos fãs que gostaram bastante da roupagem criminalística e filosófica criada numa atmosfera toda recheada de mistérios. Mas enfim: por que as pessoas não gostaram desta grande história naquela época? Simples: Chichester “matou” Matt Murdock – com o risco de sua identidade se tornar pública e com os problemas que isso traria, ele decidiu desaparecer por completo de sua identidade civil, adquirindo um novo nome e agindo como Demolidor quase 24 por dia e com um novo uniforme, todo metálico e mais capaz de protegê-lo de balas e armas mais perigosas. O que os fãs deveriam se dar conta na época e só foram perceber mais tarde é que esta tipo de mudança colocaria o herói numa situação totalmente nova, revigorando suas histórias.
Depois deste arco, Dan Chichester já havia se estabelecido como um bom escritor para o Demolidor, mas extremamente polêmico para mais de metade dos leiores e fazendo alguns arcos muito interessantes como “Árvore do Conhecimento” e “Fathoms of Humanity” (inédito no Brasil), sempre misturando um clima politizado e policial com alguma filosofia. O que aconteceu na época é que o Demolidor fazia parte de uma linha da Marvel chamada Edge, que era representada pelas revistas de último escalão da editora. É exatamente isto que você está pensando: a própria Marvel não acreditava naquilo e os editores estavam cada vez mais querendo aumento de vendas, independente da qualidade.
A partir daí a revista entrou numa queda de qualidade terrível. Chichester estava odiando a editoração que tinha e suas histórias ficavam cada vez piores devido ao péssimo apoio recebido da Marvel. Com a obrigação de que suas histórias ruins fossem publicadas ele preferiu assinar como “Alan Smithee”, pseudônimo comum utilizado no mundo do entretenimento quando os artistas não ficam felizes com seus trabalhos. Depois deste período a revista passou pelas mãos de gente como J. M. DeMatteis e outros escritores menores (até um na época desconhecido Warren Ellis) escreveu uma edição, fazendo com que tudo voltasse a ser como na década de 1960: um herói sem personalidade própria com histórias engraçadinhas e que não levavam à lugar algum. A coisa ficou mal de verdade e a revista foi cancelada após 380 números mensais. O que ninguém esperava é que um certo Joe Quesada, junto de Jimmy Palmiotti, ambos novos na Marvel naquela época, tinham algumas ideias diferentes para este personagem especificamente…
[continua na semana que vem]
[Parte 1: O Começo de Tudo]
[Parte 2: A Justiça é Cega, mas tem cores fortes!]
[Parte 3: Demolidor Amarelo]
[Parte 4: Chega Frank Miller]
[Parte 5: Sai Frank Miller, volta Frank Miller]
[Parte 6: Le Diable à la Vertigo]
[Parte 7: O Homem sem Medo de Miller e Romita Jr.]
O tal do pseudônimo que os artistas (principalmente diretores de cinema) usam quando eles mesmos não gostam do trabalho que é apresentado ao público é Alan Smithee, não Adrian.
Foi como Alan Smithee que o Chichester assinou.
Vê só como são as coisas. O povo gostava de coisas bem simples, mudanças catastroficas eram mal recebidas. E hoje ´que mais fazem é por mudanças absurdas na vida dos personagens para tentar alavancar as vendas.
Tem razão Corto, acabei de corrigir aqui, valeu =)