“El Arte – Conversaciones Imaginarias Con Mi Madre”
Juanjo Sáez – Común Editorial
Amaldiçoado seja o dia em que comprei um álbum do catalão Juanjo Sáez. Depois de ver o trabalho dele a impressão que se tem – se você faz quadrinhos – é que você perdeu muito tempo fazendo TUDO errado. O desenho desse cara transpira urgência, ele é daquele tipo que nem esboço faz, não se dá nem mesmo ao trabalho de corrigir as palavras erradas, só risca por cima e escreve certo do lado. Nisso ele se assemelha ao insano David Shrigley, de quem em breve falarei por aqui.
Na maioria dos casos Juanjo simplesmente abole olhos, narizes e rostos, seus bonecos só tem cabelo. E mesmo assim são MUITO expressivos, juro pelo Deus Inexistente. Vá entender.
Esse “El Arte” foi lançado em 2006 e relançado em 2009 pela editora do argentino Liniers, a Común Editorial, que, por sinal, tem um belíssimo catálogo. Confiram, preguiçosos.
O livro trata de explicar o que é tal da Arte para Juanjo. Na verdade, como diz o título, se trata de conversas que nunca existiram (algumas existiram, mas são minoria) entre ele e sua mãe, uma senhora dona-de-casa que não tem a mínima paciência para as artes e entende de Arte tanto quanto nós, simples mortais, ou seja: porra nenhuma. E por páginas e mais páginas – ás vezes sem desenho algum, só sua terrível letra cursiva – lá vai Juanjo explicar para sua mãezinha porque o cachimbo do Magritte NÃO é um cachimbo, mas apenas um desenho de um cachimbo.
Ex-estudante de artes plásticas ele mesmo, nosso amigo não tem misericórdia com seus colegas artistas. Nisso precisamos tirar o chapéu para ele, ta aí um cara que dá nome aos bois. Ele cita um por um dos seus conterrâneos e contemporâneos, com nome e sobrenome, esmiuçando caso por caso. Coisa de MACHO mesmo. Ou de quem evita vernissages, sei lá, eu não conheço pessoalmente o Juanjo. O que interessa é que essa é a parte mais divertida do livro.
Também existem defesas apaixonadas da obra de Picasso, Miró, Calder e Andy Warhol. Aliás foi a primeira vez que alguém me convenceu que Andy Warhol tem seu valor, não era só um puxa-saco de celebridades e ricos em geral. Esse Juanjo é deveras convincente e sabe defender seu ponto de vista com rara clareza. Tá certo que sou bastante influenciável, tudo bem, mas leiam o livro.
O único senão é a defesa de Salvador Dali. Dali não dá, calma aí. Eu odeio a palavra brega, mas se tem um caso onde ela se aplica perfeitamente é nos horrendos quadros dele. Pintura de motel, na minha opinião.
O livro é permeado pelo cotidiano da família de Juanjo, sua mãe (óbvio!), seu pai, seu tio e sua avó, que vive entrevada numa cama gritando, sem contato com o mundo exterior . A mais bela passagem do livro é uma história de 4 páginas sobre sua “abuela”. De chorar mesmo para quem já acompanhou a decadência física e mental de uma pessoa querida.
[xrr rating=4/5]
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