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Malditos Cartunistas

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Duas das formas de expressão midiáticas que mais tem crescido no Brasil – tanto em produção quanto em mercado – estão unidas neste longa metragem para elucidar um pouco do que é a vida de alguns dos mais emblemáticos cartunistas do país. De um lado, os documentários, que tem se proliferado em festivais e salas comerciais graças à facilidade cada vez maior de se produzir um filme à baixo custo sobre um tema qualquer, além do interesse cada vez maior do público, sedento por histórias originais e fantásticas que a ficção parece não conseguir mais produzir. Do outro, os quadrinhos, que vivem um belíssimo momento com a aposta de grandes editoras em trabalhos de qualidade e na inquestionável evolução dos quadrinhos independentes.

Malditos Cartunistas, realizado de forma totalmente independente – ou seja, na raça, com bons contatos e um pouco de equipamento – pelos diretores Daniel Paiva e Daniel Garcia, procura mostrar um pouco do que são, o que fazem e o que pensam alguns dos mais icônicos artistas gráficos brasileiros. São 25 nomes ao todo, desde a velha guarda com Nani Jaguar, passando pelos super-stars Laerte, Glauco e Angeli, até as gerações mais recentes, com Allan Sieber, Arnaldo Branco e André Dahmer.

Cinematicamente falando, o filme não dispõe de muitos recursos além da imagem dos entrevistados e várias de suas obras que aparecem durante seus depoimentos. Mas com uma edição eficiente e ágil, é tudo o que o espectador realmente precisa.

O nome do filme é um indicativo do humor ácido e auto-depreciativo com que a maioria dos entrevistados vê a sua profissão, já que muitas vezes foram rejeitados ou sacaneados por isso. É o ponto de partida de um filme que parece não tentar elucidar todos os temas em que toca, mas sim deixar o espectador ouvir um pouco dessas histórias pela boca de quem viveu ou vive tudo isso. As piadas, o início de carreira, a rotina, as publicações de sucesso e os fracassos editoriais, a pequena presença de mulheres nos quadrinhos (infelizmente, não citam NENHUMA, e há muitas), as marias-nanquim, O Pasquim, as revistas Chiclete com Banana, Dum Dum, Geraldão, Animal, Big Bang Bang…tudo tem seu espaço, ainda que rapidamente.

Por mais que o destaque sejam os mais famosos cartunistas do país – aqueles que as pessoas sem qualquer conhecimento de quadrinhos sabem muito bem quem são – os melhores depoimentos ficam por conta de Guazzelli, Marcatti e Spacca, além da maluquice de Ota e das ácidas tiradas de Lourenço Mutarelli, o mais engraçado de todos. Outros depoimentos, como o de Chiquinha, Danilo e Márcio Baraldi, não dizem a que vem e poderiam muito bem ser cortadas do filme, sem que ninguém sentisse falta.

E apesar de bem estruturado, rápido e certeiro, o maior problema do longa, o momento que serve tanto como um respiro – leia-se: o momento de ir ao banheiro – como o outro lado da moeda do que fora mostrado até então, está o bloco dedicado ao “midas” Maurício de Souza. Apesar de importante para os quadrinhos brasileiros e de ser o nosso cartunista mais bem sucedido, sua participação – e da amostragem de seu trabalho industrial – parece nada ter a ver com o resto do material. Importante, claro, mas totalmente fora de lugar e de contexto, sendo o único momento arrastado e chato da projeção.

Logo no início do filme, alguns dos entrevistados deixam claro que um bom cartum não precisa ser necessariamente um belo desenho, mas tem que ser engraçado e inteligente, trazendo humor e cultura. E é exatamente esse equilíbrio que o documentário Malditos Cartunistas tenta alcançar, conseguindo com sobra. Um filme tecnicamente limitado, mas engraçado, cheio de bons depoimentos e várias histórias – de cartunistas ou de publicações – que mereciam um documentário específico para cada um eles, ou seja, uns 20 outros documentários.

Para iniciados ou não, um filme pioneiro, particular e essencial.

[xrr rating=4/5]

 

Malditos Cartunistas está começando sua carreira em festivais de cinema e tem exibições programadas no Rio de Janeiro (Cinesul, dia 24 de junho, Centro Cultural dos Correios) e em Minas Gerais (CineOP, dia 17 de junho, Cine Vila Rica)

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